Casou pouca surpresa para o leitor da Bula do Mercado a queda do dólar para o menor nível do ano durante a sessão ontem. Parafraseando o personagem Confuso, de Carangos e Motocas, não é de hoje que se diz por aqui que o jogo no mercado financeiro doméstico está no câmbio. Cedo ou tarde, a tendência de desvalorização da moeda norte-americana seria retomada.
Tampouco é de agora que se fala sobre a possibilidade de antecipação do início do ciclo de cortes na taxa Selic – em um momento em que nada disso estava no radar local. Mas é essa expectativa que retira prêmios dos juros futuros e impulsiona o Ibovespa para uma sequência recorde de máximas históricas. O motor dessa dinâmica é o tal do carry trade.
A estratégia de alocação de recursos baseada na diferença entre as taxas de juros praticadas no Brasil e nos Estados Unidos favorece o ingresso de capital externo aqui – seja na renda fixa, seja na renda variável. Ao mesmo tempo, essa entrada de dólares reduz a busca por proteção (hedge) na variação cambial, desfazendo apostas contrárias ao real.
Do técnico ao macro
O cenário para esse movimento técnico é a sinalização do Comitê de Política Monetária (Copom) de que o ambiente mais benigno da inflação – reforçado pelo IPCA ontem – autoriza uma queda dos juros básicos. A ata da reunião deste mês conseguiu trazer uma mensagem mais suave “(dovish”), que havia ficado apenas nas entrelinhas do comunicado.
Nesta quarta-feira (12), o presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, tem o desafio de calibrar as expectativas dos investidores, deixando aberta a porta para um início dos cortes a partir de janeiro. A dúvida, agora, é em relação ao tamanho da queda e ao nível terminal da Selic, uma vez que 2026 é ano de eleições presidenciais no Brasil.
Ao mesmo tempo, o mercado conta as horas para o fim do mais longo shutdown da história dos Estados Unidos. A Câmara dos Representantes deve votar hoje o projeto que já passou pelo Senado. Se aprovado, espera-se um cronograma de divulgação dos dados atrasados, que deve animar as apostas de novos cortes pelo Federal Reserve depois de dezembro.
Com a indicação de juros em queda tanto aqui quanto lá fora no curto prazo, os investidores ajustam suas posições em direção ao risco, visando maiores retornos antes do apagar das luzes de 2025. Esse apetite deve ampliar o comportamento recente dos ativos locais, mas à medida que os investidores se saciam, abre-se um espaço para realização dos lucros – ainda que de forma intermitente.
Passeio pelo mercado
Os índices futuros das bolsas de Nova York amanheceram em alta. Na Europa, o sinal positivo também predomina, assim como na Ásia – exceto Xangai (-0,07%).
Entre as moedas, o dólar avança frente às rivais, mas o índice DXY (cesta de moedas de economias avançadas) segue abaixo dos 100 pontos.
Nas commodities, o petróleo recua, mas o minério de ferro negociado em Dalian (China) fechou em alta de 1,4%. O ouro sobe.
Entre as criptomoedas, o Bitcoin avança.
Agenda do dia
Indicadores
- 8h – Brasil: Relatório de Estabilidade Financeira
- 9h – Brasil: Setor de serviços (setembro)
- 14h30 – Brasil: Fluxo cambial (semanal)
Eventos
- 10h – Brasil: presidente do BC, Gabriel Galípolo, em coletiva sobre REF
- EUA: Câmara dos Representantes vota projeta que encerra shutdown
Balanços
- Brasil: Americanas, Auren, Banco do Brasil, Casas Bahia, Copel, Hapvida, MRV (depois do fechamento)