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Crise do metanol derruba consumo em bares e impulsiona supermercados, diz Elo

O medo da contaminação por metanol provocou uma mudança abrupta e profunda nos hábitos de consumo da população paulistana. Um levantamento da Elo Performance & Insights, unidade de consultoria estratégica da Elo, revela que o consumo noturno em bares e casas noturnas de São Paulo despencou nas primeiras semanas de outubro, especialmente durante os dias úteis, enquanto as compras em supermercados e lojas de bebidas cresceram de forma significativa. O fenômeno, de acordo com especialistas, reflete uma reação de autoproteção dos consumidores diante de uma crise de saúde pública que atingiu diretamente um dos pilares do lazer urbano.

A análise, baseada em milhões de transações realizadas por cartões de crédito, comparou o comportamento de consumo nas três primeiras semanas de outubro de 2025 com o mesmo período do ano anterior e com o mês imediatamente anterior, setembro. Os resultados mostram uma inversão clara de tendências. Enquanto o setor de bares e restaurantes registrou desaceleração de 2,4 pontos percentuais em seu ritmo de crescimento, o setor de supermercados apresentou aceleração de 6,7 pontos. Essa diferença revela um deslocamento do consumo do ambiente público para o privado, com impacto direto sobre os negócios ligados à vida noturna paulistana.

Entre os segmentos analisados, o subsetor de bares, discotecas e casas noturnas foi o mais afetado, com queda expressiva de 12,9 pontos percentuais em relação a setembro. A retração foi mais intensa nos dias de semana, quando o consumo caiu 26,6 pontos percentuais, indicando que o público evitou o lazer casual de segunda a quinta-feira. Nos fins de semana, o declínio foi menor, de 3,8 pontos, o que sugere uma tentativa de preservar momentos de socialização mais planejados, como encontros e comemorações. O levantamento também mostra que o horário noturno concentrou a maior parte da retração: entre 18h e 23h59, os gastos diminuíram 24,7 pontos percentuais, revertendo uma tendência de alta de quase 11% observada em setembro.

O comportamento do consumidor foi se ajustando ao longo do mês, à medida que os casos de intoxicação por metanol ganhavam espaço nas notícias e nas redes sociais. Na primeira semana de outubro, a queda no crescimento do setor de bares era de apenas 2,1 pontos percentuais. Na segunda, saltou para 14,0 pontos e, na terceira, atingiu 22,0 pontos, evidenciando uma deterioração rápida da confiança. O medo, mais do que o preço ou a renda, tornou-se o fator determinante das escolhas de consumo. “Os dados evidenciam não apenas o que aconteceu, mas como e quando o comportamento do consumidor se adaptou em tempo real a uma crise de saúde pública. Diante da incerteza, o consumidor fez uma escolha clara: reduziu drasticamente a exposição em ambientes de socialização, como bares, mas não deixou de consumir, apenas migrou essa ocasião para dentro de casa, um ambiente percebido como mais seguro e controlado”, explica Rafael Vasconcellos Cunha Bueno, superintendente de Consultoria da Elo.

O impacto da crise foi sentido de maneira desigual entre os diferentes tipos de estabelecimentos. Bares de bairro e pequenas casas de shows foram os primeiros a registrar queda no movimento, refletindo a fuga dos consumidores mais assíduos. Em regiões como Vila Madalena, Pinheiros e Centro, tradicionalmente movimentadas nas noites de São Paulo, empresários relatam quedas abruptas de faturamento e cancelamento de reservas. Restaurantes que dependem fortemente do consumo de bebidas alcoólicas também sentiram o reflexo, embora em menor escala. Alguns estabelecimentos reagiram rapidamente, reforçando controles de procedência de bebidas, divulgando campanhas de segurança e, em alguns casos, substituindo marcas suspeitas para reconquistar a confiança do público.

Em contrapartida, o setor de supermercados mostrou resiliência e até mesmo crescimento, transformando-se em uma espécie de refúgio do consumo. As lojas de bebidas, em particular, reverteram a tendência negativa de setembro e apresentaram alta de 1,7 ponto percentual em outubro. O movimento foi mais evidente durante a semana, quando o consumo nesse tipo de comércio aumentou 4,1% em relação ao mesmo período do ano anterior. A mudança sugere que o paulistano, diante do temor de contaminação, não abandonou o hábito de consumir bebidas, mas passou a fazê-lo em casa, em um ambiente que transmite sensação de segurança e controle sobre o que se está ingerindo.

Especialistas em comportamento de consumo apontam que esse tipo de movimento tende a se repetir em contextos de crise sanitária ou de risco percebido, quando o medo atua como um fator de reorganização das prioridades cotidianas. O fenômeno observado agora guarda semelhanças com o início da pandemia de Covid-19, quando houve uma forte retração dos gastos com entretenimento fora do lar e um aumento expressivo nas compras de alimentos e bebidas para consumo doméstico. No caso atual, a diferença está na natureza do gatilho: não se trata de um isolamento imposto, mas de uma reação espontânea baseada em desconfiança.

O setor de bares e restaurantes, que vinha em trajetória de recuperação após um ciclo de estabilidade no consumo, volta a enfrentar incertezas. Segundo dados da Abrasel (Associação Brasileira de Bares e Restaurantes), a margem de lucro média desses estabelecimentos é reduzida, e crises de confiança podem causar impactos imediatos na sobrevivência dos negócios. Pequenos empreendedores, que já enfrentam altos custos fixos, agora precisam lidar com a queda de frequência e com a necessidade de reconquistar o cliente, seja por meio de ações de marketing, transparência na origem dos produtos ou reforço em medidas de segurança alimentar.

Por outro lado, supermercados e lojas especializadas tendem a se beneficiar temporariamente dessa migração de consumo. A Elo destaca que o aumento nas vendas de bebidas durante a semana (historicamente um período de menor movimento) pode indicar uma reconfiguração mais duradoura nos hábitos de compra, com consumidores preferindo estocar ou planejar o consumo doméstico. Essa tendência pode ainda estimular o crescimento de novos canais de venda, como aplicativos de delivery e marketplaces especializados em bebidas premium, que passaram a atrair clientes em busca de conveniência e confiança.

 

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