O mercado financeiro chega ao fim da semana sem convicção alguma em relação a cortes nos juros do Brasil e dos Estados Unidos. Depois de o presidente do Banco Central brasileiro, Gabriel Galípolo, jogar um balde de água fria nos investidores, a correção no preço dos ativos de risco teve continuidade ontem.
O Ibovespa até que se segurou, diante das perdas acentuadas em Wall Street. O tombo do Dow Jones um dia após novo recorde foi algo raro: foi apenas a décima vez nos últimos 20 anos que o índice norte-americano caiu mais de 1% vindo de uma máxima histórica. Por sua vez, o dólar firmou-se na faixa de R$ 5,30 e os juros futuros curtos ficaram estáveis.
Esse comportamento do mercado doméstico em relação ao ambiente internacional mostra que a preocupação maior está no Federal Reserve. As apostas para a decisão em dezembro já estão divididas em torno de 50% e não há mais certeza se haverá mesmo um terceiro corte seguido na taxa de juros dos EUA – nem se terá continuidade em 2026.
A chance de manutenção dos atuais 4% no fim deste ano ganhou força após a Casa Branca afirmar que os números sobre emprego e inflação em outubro no país devem jamais serem conhecidos. Trata-se de um dos reflexos dos estragos causados pelo mais longo shutdown da história dos EUA.
Juro lá, juro aqui
Com os juros estáveis lá e aqui, a estratégia de alocação baseada no carry trade continua beneficiando os negócios locais. Afinal, o diferencial de taxas se mantém atrativo e favorece a entrada de recursos estrangeiros no Brasil, ao mesmo tempo em que encarece o hedge cambial. Foi isso o que segurou os ativos, amortecendo o impacto vindo do exterior.
De qualquer forma, o mercado já dá como certo que o caminho da taxa Selic é para baixo. Galípolo pode até negar que haverá um corte em janeiro. Mas não se descarta um ciclo de queda ao longo de 2026. A dúvida ainda é quando o movimento começa, a qual ritmo e em qual magnitude em meio à corrida presidencial no próximo ano.
Diante de tantas incertezas, o espaço para consolidar os ganhos recentes segue aberto. É tempo de correção na bolsa brasileira, depois do rali histórico. Eis que surge também uma oportunidade para quem ficou de fora da festa no mercado de ações. Afinal, um gatilho para a renda variável é a perspectiva de juros mais baixos – tanto aqui quanto lá fora.
Esse ambiente segura o dólar e também os DIs, acomodando as taxas – tanto do câmbio quanto dos títulos, com a percepção de risco fiscal calibrando as posições. Entre cortes que podem não vir e dados que nunca virão, o mercado navega no escuro e quem acende a luz é o próprio preço dos ativos.
Passeio pelo mercado
Os futuros das bolsas de Nova York amanheceram em queda, sinalizando uma ampliação das fortes perdas da véspera, em meio às dúvidas sobre corte de juros em dezembro. Na Europa, também prevalece o sinal negativo.
Na Ásia, a sessão foi de queda firme, em meio à queda da produção industrial na China para o menor nível em 14 meses. As vendas no varejo chinês também tiveram o crescimento mais baixo desde agosto de 2024 – ainda assim, acima do esperado.
Entre as moedas, o dólar avança em relação às rivais.
Nas commodities, o petróleo sobe, mas o minério de ferro negociado em Dalian (China) fechou em leve baixa, encerrando a semana cotado a US$ 107,45 a tonelada métrica.
O ouro recua, assim como o Bitcoin, entre as criptomoedas.
Agenda do dia
Indicadores
- 8h – Brasil: IGP-10 (novembro)
- 9h – Brasil: Pnad (setembro)
- 10h – Brasil: Prisma Fiscal – Fazenda
Balanços
- BrasiL: Azul (antes de abertura)
- Brasil: AgroGalaxy, Cosan, Lojas Marisa, Raízen, Rumo e Ser Educacional (depois do fechamento)