Em Mato Grosso, cerca de 60% dos casos de feminicídio ocorreram dentro da casa da própria vítima.
Dados do Observatório Caliandra indicam que 140 registros foram feitos em residências das vítimas, de um total de 233 locais de ocorrência analisados. O levantamento mostra que, até novembro de 2025, o estado contabilizou 47 casos de feminicídio, número idêntico ao registrado em 2024.
As demais ocorrências se dividiram entre outras residências com 31%, que incluem casas de familiares ou conhecidos, e vias públicas com 17%. A maior parte dos feminicídios foi cometida por companheiros ou ex-companheiros, sendo 70% das ocorrências registradas.
Armas brancas e ciúmes lideram como meios e motivações
Em relação ao uso de armas cortantes ou perfurantes, como facas e canivetes, aparece 170 casos, uma das principais forma de execução dos crimes. Em seguida, aparecem as armas de fogo com 75 casos e os casos de asfixia ou estrangulamento com 30 casos.
Foram registrados 98 casos classificados como relacionados a ciúmes, sentimento de posse ou machismo.
Em 70 ocorrências, a motivação indicada foi menosprezo ou discriminação à condição de mulher.
Outras 57 situações envolveram separação do casal ou tentativa de rompimento.
Os dados mostram que a maioria dos feminicídios em Mato Grosso está ligada a conflitos dentro de relacionamentos afetivos e familiares.
Perfil das vítimas
A análise etária mostra que as vítimas estão, em sua maioria, na faixa entre 25 e 34 anos, seguidas por mulheres de 35 a 44 anos. Em relação à cor e etnia, o levantamento aponta 203 vítimas pardas, 74 brancas e 34 pretas.
Em relação a escolaridade, 87 vítimas cursaram até o ensino fundamental, enquanto 170 não tiveram a informação registrada. Apenas 21 tinham ensino superior.
O perfil das vítimas, segundo o Observatório, reflete vulnerabilidades acumuladas, sendo sociais, econômicas e de gênero, que ampliam o risco de violência extrema.
Medidas protetivas ainda são exceção
Apesar do número elevado de registros, apenas 32 vítimas possuíam medida protetiva em vigor contra o agressor. Outras 299 não tinham nenhum tipo de proteção judicial.
Entre os casos analisados, 216 mulheres não haviam registrado boletim de ocorrência anterior, o que evidencia a dificuldade de romper ciclos de violência e de acessar os mecanismos de proteção disponíveis.
Processos e condenações
Dos casos que já chegaram ao sistema de Justiça, 147 resultaram em sentença de pronúncia e condenação, enquanto 66 seguem sem informações atualizadas.
Ainda existem 44 casos com extinção de punibilidade por morte do agressor e 43 com denúncias oferecidas pelo Ministério Público.
Os dados, segundo o Observatório, ainda podem sofrer alterações, já que se baseiam nos registros da Polícia Judiciária Civil antes do oferecimento formal das denúncias.
Órfãos e impactos ao longo dos anos
Outro ponto sensível do levantamento é o número de crianças e adolescentes que ficaram órfãos em decorrência dos feminicídios. Em 2022, foram 92 órfãos registrados, em 2023, 87, e em 2024, 82.
Foram 39 casos em 2019, 62 em 2020, 43 em 2021, 47 em 2022, 46 em 2023, 47 em 2024 e 47 até novembro de 2025.
Os meses com mais registros são junho, com 35 casos e agosto com 33, e os finais de semana concentram o maior número de assassinatos, especialmente domingo e sábado, com 57 casos cada. O período noturno também é o mais violento, com 144 ocorrências registradas.
Casos em 2025 (até nov.)
47 registros — mesmo total de 2024.
Série 2019–2025: 39, 62, 43, 47, 46, 47, 47
Local do fato
60%
Residência da vítima: 60%
31%
Outras residências: 31%
17%
Via pública: 17%
*Casas de familiares, conhecidos ou terceiros. (Total analisado: 233 registros)
Vínculo com o autor
118
72
—
Companheiro + ex-companheiro ≈ 70% dos casos.
Meio empregado
170
Arma cortante/perfurante: 170
75
Arma de fogo: 75
30
Asfixia/estrangulamento: 30
Motivação do crime
98
Ciúmes/posse/machismo: 98
70
Menosprezo: 70
57
Separação/rompimento: 57
Faixa etária mais frequente
- 25 a 34 anos
- 35 a 44 anos
Etnia (vítimas)
| Categoria | Casos |
|---|---|
| Parda | 203 |
| Branca | 74 |
| Preta | 34 |
Escolaridade
| Ensino fundamental | 87 |
| Ensino superior | 21 |
| Não informado | 170 |
Medidas e registros
Medida protetiva — Sim: 32
Medida protetiva — Não: 299
Sem boletim de ocorrência anterior: 216
Situação do processo
147
Sentenças/condenações: 147
66
Não informado: 66
44
Extinção: 44
43
Denúncias: 43
Evolução & horários
Meses com mais registros: junho (35) e agosto (33).
Dias com maior incidência: domingo e sábado (57 cada).
Período predominante: noturno (144 ocorrências).
Órfãos de feminicídio
| Ano | Total |
|---|---|
| 2022 | 92 |
| 2023 | 87 |
| 2024 | 82 |
Notas
Estatísticas sujeitas a atualização. Base: registros da Polícia Judiciária Civil compilados pelo Observatório Caliandra.
Fonte e atualização
Os dados são do Observatório Caliandra, que monitora indicadores de violência contra a mulher em Mato Grosso a partir de informações da Polícia Judiciária Civil.
As estatísticas foram atualizadas em 10 de novembro de 2025 e estão sujeitas a alterações conforme o andamento dos processos e o oferecimento das denúncias pelo Ministério Público.
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