A importância de investimentos em tecnologia e infraestrutura para consolidar a Rota Bioceânica como um corredor de desenvolvimento econômico e não apenas logístico foi o destaque no debate da manhã desta quarta-feira (19), no segundo dia do Seminário Internacional da Rota Bioceânica e do 6º Foro de los Gobiernos Subnacionales del Corredor Bioceánico. Campo Grande está sediando o evento até quinta-feira (20), no Centro de Convenções Rubens Gil de Camillo.
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O secretário-executivo de Ciência, Tecnologia e Inovação da Semadesc (Secretaria de Estado de Meio Ambiente, Desenvolvimento, Ciência, Tecnologia e Inovação), Ricardo Senna, enfatizou que, além da pavimentação e construção de pontes, o corredor precisará de soluções avançadas em tecnologia da informação e comunicação para garantir conectividade ao longo dos mais de 3 mil quilômetros.
A implantação de uma Infovia Digital, como tem em Mato Grosso do Sul, permitiria o monitoramento de cargas e passageiros, além da utilização de inteligência artificial para gestão do tráfego.
“Conectar todo o trajeto com fibra óptica possibilita a transmissão de dados em tempo real, comunicação eficiente e rastreamento de mercadorias. Além disso, precisamos incluir as comunidades que vivem ao longo da rota, garantindo acesso à tecnologia e promovendo desenvolvimento social”, explicou Senna.

O grande desafio, segundo o secretário-executivo, é transformar a Rota Bioceânica em um corredor de desenvolvimento econômico, voltado ao crescimento sustentável e à melhoria da qualidade de vida das populações locais.
“Esse tipo de infraestrutura tecnológica pode ser disponibilizado para acompanhar cargas, fluxo de pessoas e aplicar inteligência artificial na gestão do tráfego”, acrescentou.
Alfândega Digital
Outro ponto crítico debatido foi a burocracia alfandegária, que pode comprometer a competitividade da Rota Bioceânica.
O secretário estadual da Semadesc, Jaime Verruck, explicou que, atualmente, um caminhão precisa passar por até seis processos alfandegários antes de chegar ao destino final.
Para solucionar esse entrave, os países envolvidos estão discutindo uma legislação específica para a rota, permitindo uma alfândega única e a digitalização de processos.
“O modelo atual inviabiliza a rota. A solução é uma legislação específica com cabeceira única, garantindo que um caminhão carregado em Campo Grande só precise ser inspecionado ao chegar no Chile. Isso requer mudanças legais, monitoramento de segurança e sistemas digitais”, afirmou Verruck.

Sincronização das Obras
O chefe da Divisão de Infraestrutura do Ministério das Relações Exteriores, ministro da carreira diplomática João Carlos Parkinson de Castro, alertou para a necessidade de sincronizar o cronograma de obras entre os quatro países envolvidos.
Parkinson ressaltou que, para garantir a operacionalização da Rota Bioceânica até 2026, é essencial que todas as estruturas estejam prontas simultaneamente.
“Todos os funcionários do governo dos quatro países devem estar comprometidos e preocupados em assegurar que, no final de 2026, o corredor esteja plenamente operacional, sem obstáculos ou barreiras, funcionando de ponta a ponta”, destacou.
Ferrovias e Sustentabilidade
Diante da emergência climática e da crescente demanda por soluções sustentáveis, Parkinson também enfatizou a necessidade de investir em ferrovias para reduzir a emissão de gases do efeito estufa.
Ele mencionou a possibilidade de integrar a malha ferroviária da região, incluindo trechos na Argentina, Bolívia e Chile, como alternativa ao transporte rodoviário.
A proposta visa a descarbonização do transporte de cargas, tornando a Rota Bioceânica uma opção mais sustentável e eficiente para o comércio internacional.
“Os investimentos em infraestrutura ferroviária podem ser baixos, mas os impactos positivos serão enormes”, concluiu o ministro.
Fórum de governadores
Governadores de regiões que fazem parte da Rota Bioceânica aproveitaram para se reunir em um fórum nesta quarta-feira. Discussões com as portas fechadas para a imprensa, mas entre os temas debatidos está a questão alfandegária entre os países. O principal ponto de preocupação neste momento é tornar o corredor rodoviário competitivo no mercado.
VEJA A PROGRAMAÇÃO COMPLETA DO SEMINÁRIO
A Rota Bioceânica
O Corredor Bioceânico de Capricórnio tem 3.320 km de extensão, que conectará o Oceano Atlântico ao Oceano Pacífico, passando por Brasil, Paraguai, Argentina e Chile. Só de Campo Grande ao litoral do Chile, são cerca de 2,5 mil quilômetros passando por: Porto Murtinho (MS); pelo Chaco paraguaio de Carmelo Peralta a Pozo Hondo; pelo norte da Argentina em cidades como San Salvador de Jujuy e Salta; por San Pedro de Atacama até os portos chilenos de Iquique e Antofagasta.
Esta rota promete transformar a logística regional e global, trazendo uma série de benefícios econômicos e operacionais para os países envolvidos.