O ex-ministro da Casa Civil do primeiro governo Lula, Zé Dirceu (PT), afirmou, durante entrevista ao podcast Política de Primeira, que a extrema direita no Brasil e no mundo introduziu o ódio e a violência na política. Além disso, o petista disse que o problema do Brasil agora é o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e sua ofensiva em defesa do ex-presidente da República Jair Bolsonaro (PL).
“Nós temos que distensionar o ódio e a violência na política. Mas quem introduziu o ódio e a violência na política foi a extrema direita no Brasil e no mundo todo, não fomos nós. Nós tínhamos divergências políticas com os tucanos, com o presidente Fernando Henrique Cardoso, mas nós não estimulávamos o ódio, a violência. Isso que aconteceu no 8 de janeiro, esse plano Punhal Verde-Amarelo pra assassinar presidente, o vice, quer dizer, o Lula e o [Geraldo] Alckmin, e o ministro Alexandre de Moraes, e tudo o que aconteceu, os acampamentos, e toda a negação das urnas eletrônicas, quer dizer, o Bolsonaro foi eleito presidente dizendo que a eleição tinha sido fraudada.”
“Nós estamos vendo o Trump. Essa marcha pra tomar de assalto as instituições e implantar uma ditadura nós não podemos permitir, temos que evitar, nós temos que lutar contra isso. Lógico que nós temos que baixar a temperatura política, mas agora o problema do Brasil já não é mais esse, o problema do Brasil agora é o Trump, essa agressão contra o país, é o tarifaço, é a ameaça a nossa soberania. É a proteção do emprego, da renda, do bem-estar do Brasil, das famílias brasileiras e das empresas brasileiras. Isso que tem que ser a preocupação do governo neste momento”, declarou Zé Dirceu.
Lula x Trump (Bolsonaro)
Questionado se o presidente Lula deveria ter uma interlocução maior com Trump após o tarifaço dos Estados Unidos contra o Brasil, Zé Dirceu respondeu que isso “não é possível porque o Trump não quer”.
“O presidente Trump não indicou embaixador no Brasil até hoje, estamos no mês de agosto. Ele nunca quis dialogar com o Brasil. Não é o tarifaço, é uma intervenção, uma interferência na soberania do poder Judiciário e Legislativo do Brasil, na soberania do Brasil. Porque ele quer a anistia, quem cuida de anistia é o Parlamento, ou indulto presidencial. Quem cuida de processo penal, ainda mais um processo penal de crime contra do Estado de direito, de golpe de Estado, é a Suprema Corte, no caso dos Estados Unidos e do Brasil. Então é inadmissível. Não há nenhuma razão comercial para esse tarifaço. Qual é a razão para isso? Política? Não pode. Por causa do Bolsonaro, da família Bolsonaro, da anistia, por causa das big techs, do Pix? Se um país se desenvolve tecnologicamente mais que os Estados Unidos, ele é agredido? Então o Brasil não pode desenvolver o Pix? Todos os países do mundo, até na Europa, estão regulando as big techs, aí o Brasil não pode regular? Qual é a queixa que os Estados Unidos têm em relação ao Brasil? Não há nenhuma razão pro tarifaço. É uma questão política só. Evidentemente é inaceitável pro Brasil. Por isso que há um repúdio nacional e por isso que o governo adotou medidas para defender os setores da economia e por isso que o Brasil pode e deve se defender dessa agressão à soberania nacional.”
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Eduardo Bolsonaro com carta de Trump

Há alguns dias, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), que está nos EUA e tem atuado junto ao governo americano para evitar a condenação do seu pai, o ex-presidente Jair Bolsonaro, postou um vídeo, com uma carta de Trump na mão, dando “um conselho” a autoridades brasileiras.
“Eu trago pra vocês aqui o que eu recebi na Casa Branca, no último encontro que eu tive lá, com uma das autoridades que conversa diretamente com o presidente Trump. Ele falou: Eduardo, é pra você. Aí tem aqui: ‘The Honorable Jair Messias Bolsonaro, 38th President of the Federal Republic of Brazil’. Foi o presidente Trump para o Jair Bolsonaro, tecendo elogios, falando na preocupação dele com a prisão, a perseguição que ele tá sofrendo. Nesse tempo que ele ainda não estava preso em prisão domiciliar. Então, mais uma vez, autoridades brasileiras, esse cara aqui [apontando pra carta de Trump] ganhou do Trudeau [ex-primeiro-ministro] no Canadá, ganhou o que ele queria do México, aumentou o PIB da União Europeia para fim de defesa. Esse cara aqui, ele senta com Putin [presidente da Rússia], ele aperta a mão do Kim Jong-un [ditador da Coreia do Norte], ele bombardeia o Ali Khamenei [líder supremo do Irã]. Vocês acham mesmo que são vocês que vão conseguir parar e enrolar esse cara daqui?”
“Eu estou dando mais uma vez um conselho a vocês, de alguém que consegue se encontrar com as autoridades daqui e conhece o clima de dentro da fonte. Porque o Itamaraty, quando tentou ir no State Department, não foi na Casa Branca, a embaixadora [Maria Luiza Ribeiro] Viotti recebeu uma porta na cara. Voltou correndo das férias e recebeu uma porta na cara. É a famosa frase, né? ‘Too late’. Tarde demais. Vocês que estão com o poder da caneta no Brasil, ajam antes que seja tarde demais. Não deem trela para narrativa. Porque depois, se esse cara aqui resolver de fato usar as armas que ele tem, que ele nem começou a usar, aí que não haverá mais volta.”
Na sexta-feira (15), o presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), enviou ao Conselho de Ética quatro representações contra Eduardo Bolsonaro, acusado de ferir o decoro parlamentar.
“Não é tolerável o que extrema direita está fazendo”
Durante a entrevista no podcast Política de Primeira, Zé Dirceu também falou sobre os deputados da oposição que ocuparam a Mesa Diretora da Câmara.
“Isso que aconteceu na Câmara, de assaltar a Mesa da Câmara, aqueles gestos, aquelas coisas. Impedir o presidente da Câmara. Se eles querem anistia, eles têm que aprovar no voto na Câmara e no Senado, não podem fazer o que fizeram. Muito menos você pregar o impeachment dos ministros do Supremo porque eles estão tomando decisões que você não concorda. Você pode fazer impeachment de ministro do Supremo, mas a lei diz por que você pode fazer. O país precisa tomar consciência que não é tolerável, não pode aceitar o que a extrema direita está fazendo. Tem que respeitar as decisões da Suprema Corte. Se você quer mudar, você elege e muda a lei. O Bolsonaro quis o voto impresso, o Congresso rejeitou a proposta dele. Aí ele diz que a eleição é uma fraude, ganha e diz que foi fraudada. Chega um ponto que é quase inacreditável as coisas que eles afirmam.”
“Aplicar o rigor da lei. A Mesa da Câmara e o Plenário tem que punir os deputados, ou com advertência, suspensão ou cassação. Porque um deputado não pode impedir o presidente da Câmara de sentar na cadeira, tem que responder por isso. É como eu impedir você de entrar na sua casa, eu não posso fazer isso, eu respondo por isso. Deram 45 dias [na Corregedoria], já começou mal. Um caso como aquele, o país todo assistindo.”
“Cada vez aumenta a rejeição à Câmara e ao Senado, é assustadora a rejeição. Por exemplo, essa coisa de aumentar o número de deputados, 80% da sociedade é contra, porque não tem nenhuma razão, se mudou o eleitorado, aí os estados que ganharam, ganharam, aí os estados que perderam, ganham. Aí aumenta o número de deputados, isso é contra a Constituição. A Constituição só manda o seguinte: redistribuiu a população, redistribui [as vagas de deputados]. Viola a Constituição é acha que está tudo certo? A coisa do Imposto de Operações Financeiras [IOF], a lei diz que é o presidente que estabelece a alíquota, então o Congresso não pode revogar o decreto do presidente. Por isso que o Supremo deu razão pro presidente. É preciso respeitar as regras do jogo, senão nós caminhamos para ditadura.”