O prefeito de Cuiabá, Abílio Brunini (PL), reconheceu que utilizou uma palavra “inadequada” para criticar a qualidade do ensino da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), mas reiterou os apontamentos que fez sobre a instituição.
O liberal afirma que poderia ter usado outra expressão para proferir as críticas, mas não muda seu posicionamento sobre a forma como a UFMT está sendo conduzida.
Para ele, a instituição está sendo politizada. “Acho que a palavra foi inapropriada, por causa do seu peso pejorativo. Acho que isso foi inapropriado, mas o meu descontentamento continua o mesmo, a minha observação continua a mesma. Agora, o peso da palavra foi inapropriado, porque traz uma certa dissonância com a história, a mensagem da própria unicidade”, reconheceu o gestor nesta quarta-feira (10).
No início desta semana, o gestor municipal classificou como “uma bosta” a qualidade do ensino da universidade. A declaração gerou revolta na reitoria, entre docentes e alunos da UFMT.
Uma manifestação contra o posicionamento do prefeito, inclusive, está programada para a tarde de hoje (21).
Apesar de admitir que exagerou nos termos usados, Abílio reitera as críticas e volta a dizer que a “UFMT está muito aquém, não chega nem à sombra de toda a sua história, da memória que a população cuiabana tem”.
“Ela está se aproximando muito mais de um partido político do que de um espaço de formação acadêmica”, completou.

Para Abílio, a atual administração da universidade tem usado a instituição para propagar posicionamentos políticos de esquerda.
“A universidade está fazendo manifestação política como um todo, não está separando as coisas. A reitora da universidade, há um tempo atrás, fez uma moção de repúdio sobre o pronome neutro na rede social da instituição. Depois, a rede social da universidade tem posicionamentos contrários a ideologias de direita, tem matéria da reitora se manifestando contra a direita, a universidade usa seus meios de comunicação para censurar comentários contrários. […] Eu acredito que essa postura da universidade vai contra a necessidade de se fortalecer”, completou.
O que diz a UFMT
Por meio de nota, a universidade repudiou as falas do prefeito e disse que elas desqualificam, de maneira genérica e ofensiva, o trabalho de milhares de docentes, técnicos e estudantes que hoje atuam em todos os setores da vida social.
“A UFMT é referência regional e nacional em ensino, pesquisa e extensão, articulando-se permanentemente com os desafios da sociedade mato-grossense: da saúde pública ao agronegócio, da cultura à inovação tecnológica, da defesa do meio ambiente à formação de professores que sustentam a educação básica em centenas de municípios”, diz trecho da nota.
Indignação na classe política
Diversos vereadores, deputados estaduais e outras lideranças políticas repreenderam o posicionamento de Abílio. O presidente da Assembleia Legislativa, deputado estadual Max Russi (PSB), evitou polemizar o fato, mas fez questão de reafirmar a importância da instituição no Estado.

O socialista destacou o papel da UFMT na formação de profissionais em diversas áreas, lembrando que vários agentes políticos de Mato Grosso se formaram na universidade.
“Eu não vi a manifestação dele, mas não concordo com qualquer comentário que venha enfraquecer a Universidade Federal. Nosso trabalho, enquanto políticos, deve ser pelo fortalecimento do ensino público superior gratuito”, alfinetou.

Outros deputados, como Eduardo Botelho (União) e Diego Guimarães (Republicanos), também condenaram as críticas de Abílio.
“É lamentável esse desrespeito que o prefeito vem demonstrando não só com a Universidade Federal, mas sobretudo com os estudantes, os expondo. Muita gente de renome saiu da Universidade Federal de Mato Grosso”, declarou Botelho, acrescentando que não vê surpresas no posicionamento de Abílio, tendo em vista a postura adotada pelo prefeito de Cuiabá.
“É, no mínimo, uma falta de respeito. Mas isso já é praxe dele. A gente já sabe que ele não respeita nada, não respeita ninguém, nem crianças, as expondo. Faz parte da índole do prefeito”, disse.

Já Diego Guimarães, que foi aliado do gestor municipal quando ambos eram vereadores da Capital, classificou a fala como infeliz e disse que recomendou ao liberal que se retratasse.
“Foi muito infeliz a fala do prefeito. Liguei para ele ontem para dizer isso. Ele me disse que a intenção era criticar o uso da UFMT para a militância de esquerda, e eu disse que ele deveria se retratar e dizer que repudia as pessoas que tentam utilizar essa importante instituição para a militância política”, afirmou.
O governador também falou
O governador Mauro Mendes (União) não quis emitir opiniões sobre as declarações de Abílio em relação à UFMT, mas deu um conselho ao chefe do Executivo Municipal:
“Eu não gosto de entrar em polêmicas, prefiro trabalhar e entregar resultados. Acho que o prefeito Abílio também pode trabalhar e se preocupar mais em entregar resultados, porque pode ter certeza de que é isso que a população vai cobrar dele e de qualquer prefeito municipal”.

Ele frisa que, às vezes, é necessário se posicionar sobre determinados temas, mas destaca que o foco deve ser a gestão.
“Falar de polêmicas, falar de coisas cotidianas, dar alguns posicionamentos é importante? É, mas no final do dia isso não enche a barriga de ninguém, não transforma realidades. Então, eu digo isso para todos os prefeitos de Mato Grosso: trabalhem e entreguem bons resultados. Não existe senhor do bom começo, existe senhor do bom fim. No final, daqui quatro anos, todos os prefeitos serão julgados pela qualidade da entrega”, completou.
Como tudo começou
Há semanas o prefeito vem fazendo reiteradas críticas à educação pública da Capital e do Estado como um todo. Na semana passada, contudo, isso se intensificou devido a um vídeo publicado nas redes sociais, em que alunos da rede estadual de ensino não souberam responder a Abílio quanto era 4×4.
Por outro lado, os estudantes fizeram o sinal do “L”, em referência ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o que fez com que o prefeito intensificasse ainda mais as críticas, dizendo que os alunos de esquerda não sabem fazer multiplicação.
A publicação gerou polêmica, e muitos questionaram a exposição de menores no vídeo. O deputado estadual Valdir Barranco (PT), inclusive, acionou o Ministério Público (MPE) contra o prefeito.
Já nesta semana, a investida de Abílio foi contra a UFMT. Ao comentar toda a situação envolvendo a gravação e reiterar as críticas à qualidade do ensino municipal e estadual, o gestor disse que a situação da Universidade Federal está “uma bosta”.
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