Em novembro de 2021, o mercado assistiu a um spin-off, ou para usar um termo brasileiro, uma separação de parte da IBM que originou a Kyndryl. Do dia para a noite, surgiu uma nova empresa com 80 mil funcionários em todos os países onde havia operações da gigante global de tecnologia. Passados exatamente 4 anos, Spencer Garcia, diretor-geral da Kyndryl no Brasil, diz de maneira enfática: “Hoje não somos mais ‘ex-IBMistas’”.
Focada no suporte de infraestrutura em missão crítica, ou seja, tecnologias que são a base do funcionamento de qualquer companhia, a Kyndryl já uma das três maiores empresas globais do mercado de provedoras de tecnologia do mundo quando se fala de crescimento em valor de mercado. Comparando a expansão de faturamento, a companhia cresce globalmente entre 6 e 7% ano contra ano. As ações que hoje giram em torno de US$ 29 dólares eram menos de US$ 10 dólares quando a IBM vendeu todas as suas ações e permitiu o surgimento da nova empresa. Em 2025, a Kyndryl já comemora em seu portfólio de clientes as cinco maiores companhias aéreas e o cinco maiores bancos do mundo.
No Brasil, a empresa aproveitou uma antiga propriedade da IBM em Hortolândia, interior de São Paulo, modernizou a instalação e criou seu próprio Centro de Operações de Segurança que fornece suporte e proteção para todo o ciclo de vida das ameaças cibernéticas. O espaço é integrado com os centros globais da Kyndryl, aproveitando a sua inteligência global em ameaças para aumentar a proteção das empresas e acelerar o tempo de resposta a incidentes.
Embora os dados do Brasil sejam sigilosos, Garcia afirma: “No país, temos crescido mais do que a média do mercado de tecnologia nacional e eu gosto deste desafio de me reconectar ao mercado brasileiro e arrancar este crescimento aqui. Foi por isso que saí dos EUA e voltei ao meu país”. Dados do International Data Corporation (IDC) apontam que, em 2024, o setor cresceu cerca de 14% no Brasil, acima da média global que ficou em aproximadamente 11%.
De volta à sua terra
Por mais que, a primeira vista, o nome Spencer Gracias possa soar como uma mistura entre inglês e espanhol, o atual diretor-geral da Kyndryl é bem brasileiro. Após assumir a companhia no Brasil em junho do ano passado, ele supervisiona uma equipe de cerca de 5.000 engenheiros altamente qualificados, fornecendo serviços de infraestrutura, segurança cibernética, consultoria, estratégia de nuvem e soluções de dados e IA para mais de 100 clientes ativos.
Apaixonado por tecnologia, Gracias atuou em gigantes do setor: primeiro na IBM México, onde foi responsável por vendas e terceirização. Esteve pessoalmente atuando em pelo menos dois mega negócios, cada um envolvendo cerca de US$ 1 bilhão, com grandes empresas de fora do universo tecnológico, como a gigante de construção CEMEX e a instituição financeira Banorte, ambas sediadas no México. Depois, mudou-se para Detroit, nos EUA, onde foi CEO regional da Stefanini e comemorou um aumento de 250% na receita e de 500% nas margens da empresa durante sua gestão.
Garcia diz que assumiu a filial da companhia em uma segunda fase de posicionamento no mercado. “Após o spin-off da IBM, a Kyndryl teve que ganhar independência em relação a antiga empresa em todos os seus sistemas. Em caso de separações como essas, sempre tem um tempo para se desconectar da outra companhia e conseguimos isso em cerca de 18 meses, quando fizemos mais de 60 alianças globais com empresas como, AWS, Microsoft e Google. Foram 1 milhão de horas de treinamento com nosso pessoal, já que o maior ativo são nossas pessoas. Eu cheguei um pouco depois dessa fase, justamente para fazer a Kyndryl alavancar seu crescimento após a estabilização do negócio”, disse.
A empresa também apostou na criação de um braço de consultoria, a Kyndryl Consulting. Nas palavras de Garcia, o objetivo é que “os clientes se tornem nativos de IA” ao implementar o principal recurso tecnológico do futuro como base de suas operações. O executivo entende que este cenário nunca esteve tão propício no Brasil. “É um momento muito bom da empresa em vários aspectos, já que temos feito conversas de níveis muito avançados em torno de IA, segurança, estratégia de cloud e modernização do legado das companhias”.
Após acompanhar por tantos anos este mercado, Garcia comemora uma mudança importante de paradigma que mostra como os negócios da Kyndryl só tendem a crescer: “CIO era uma linha de custo e hoje ele discute negócios”.