Mauro Mendes é um daqueles políticos que seguem uma trajetória diferente do padrão habitual. Goiano de nascimento, foi eleito prefeito de Cuiabá (MT) em 2012 e após ter alcançado altos índices de popularidade, que indicavam uma possível reeleição, surpreendeu a todos ao abandonar a política no auge para cuidar de suas empresas do ramo de metalurgia. Com forte interlocução com o empresariado brasileiro, por seis anos foi presidente da Federação das Indústrias de Mato Grosso (Fiemt) e ocupou ainda o cargo de vice-presidente da Confederação Nacional das Indústrias.
Em 2018 voltou à cena pública e venceu as eleições ao governo do Mato Grosso, sendo reeleito no 1º turno de maneira esmagadora com quase 70% dos votos. Na atual polarização que o Brasil vive, Mauro Mendes se coloca em cima do muro em muitas questões: é apoiador de Jair Bolsonaro, mas mantém intrigas públicas com os filhos do ex-presidente. É um crítico das decisões de Donald Trump em impor 50% de tarifa ao Brasil, muito por causa da atuação de Eduardo Bolsonaro. Criticou os ataques do 8 de janeiro, mas não viu possibilidade de golpe de Estado.
Filiado ao União Brasil, discorda de muitas pautas políticas do PT, mas mantém uma boa relação com o presidente Lula, diferente de outros governadores do seu espectro político. Porém, é um crítico do descontrole de gastos públicos, mesmo que seja para atender demandas sociais. Confira a entrevista completa que o Mendes concedeu ao BRAZIL ECONOMY.
O senhor é conhecido por representar o agro brasileiro. Como este setor enxerga o atual governo Lula?
O presidente Lula tem feito um esforço para comunicar uma agenda voltada para o social muito intensa, tem priorizado isso. Entretanto, ele não priorizou a principal das agendas que é o equilíbrio fiscal e cuidar das contas públicas. Sem isso, o governo dele e o nosso País podem quebrar nos próximos anos. A dívida pública está crescendo de forma descontrolada, os juros são altos porque o governo deve muito e não tem dinheiro para pagar os juros da sua dívida e isso vai colapsar o Governo Federal e pode prejudicar gigantemente a economia e o cidadão brasileiro.
O Mato Grosso tem feito essa lição de casa com as contas públicas que o senhor critica o presidente Lula por supostamente não fazer?
As principais conquistas do meu governo foram justamente o equilíbrio fiscal e recuperar a capacidade do estado de fazer investimentos. Quando eu assumi o estado tinha salários atrasados, fornecedores com cinco e seis meses de atraso, repasses obrigatórios na saúde com 11 meses de atraso. Fizemos ajuste fiscal, cortamos despesas, trabalhamos para aumentar receita e hoje somos um dos estados que mais investem no País. Quase 20% do que arrecadamos vira investimento. E com isso, grandes obras na infraestrutura, mais de 7 mil km de asfalto novo nas rodovias estaduais, seis grandes hospitais, melhoria substancial na qualidade da educação nos seus resultados. Enfim, investimentos em todas as áreas.
Mato Grosso é o maior produtor do agro brasileiro. Como o senhor vê a atual dinâmica de escoamento da produção do estado?
Estamos no coração da América Latina e a 2 mil km dos portos. Se somos um grande produtor e um pequeno consumidor, porque temos 3,8 milhões de pessoas apenas, nós precisamos escoar para o Brasil e aos portos dos mercados mundiais todo nosso excedente de produção, que é grande. Já batemos o recorde de 112 milhões de toneladas na safra 2024/2025. Temos como continuar crescendo e as ferrovias e a logística são fundamentais para manter nossa competitividade.
A tarifa imposta por Donald Trump aos produtos brasileiros em julho deste ano impactou de que maneira o Mato Grosso?
Não sofremos com esses impactos impostos pelo tarifaço de Trump. Que, aliás, foi uma ação desmedida, desproporcional, com motivações torpes e que não deram resultado. Eu acho que foi um grande equívoco do governo americano de querer taxar os produtos brasileiros.
O senhor é a favor da anistia aos condenados pelos atos do 8 de janeiro?
8 de janeiro foi um lamentável fato. Eu vi pessoas ali protestando, mães, pais de família, pessoas de bem que estavam revoltadas e indignadas. Fizeram um ato de vandalismo que deve ser punido, mas eu nunca vi naquelas pessoas uma tentativa de golpe. Ali eram cidadãos descontentes protestando e cometendo um ato de vandalismo e não um golpe de estado. Falar em golpe é criar uma narrativa que não sustenta na prática. Não houve um tiro, não houve canhão na rua ou movimento mais consistente nessa direção. Eu nunca acreditei nisso. Houve uma grande narrativa para sustentar uma teoria da conspiração que, na prática, nunca existiu.
Há uma junção de governadores de direita, como Tarcísio de Freitas, Ronaldo Caiado e Ratinho Júnior se articulando para derrotar o presidente Lula no ano que vem. O senhor acha que é a hora certa desse movimento?
Existe uma insatisfação grande de boa parte do cidadão brasileiro com os resultados do poder público e principalmente com o governo do presidente Lula. A violência cresce e o desequilíbrio fiscal aumenta, muita gente já começa a perceber que se antes o Brasil caminhava para o caos fiscal, agora ele corre. Segundo o TCU anunciou, em 2027 vai ter um shutdown na máquina pública federal. Isso pode ser catastrófico para a economia brasileira e para todos nós cidadãos que vivemos neste País.
Muita gente já aposta no governador Ronaldo Caiado, de Goiás, seu aliado político na defesa do agronegócio do centro-oeste, como candidato certo deste espectro político à presidência ano que vem…
Ronaldo Caiado é um grande governador, um político que tem longa e boa trajetória na política, experiência, coragem e está determinado. Eu vejo que ele é um grande nome e uma excelente alternativa para o Brasil nas eleições de 2026.
Quais seus planos políticos para 2026?
Por enquanto terminar meu mandato, honrar meu compromisso e existe a possibilidade de, já em 2026, analisar a conveniência, minha vontade e permissão da minha família para concorrer possivelmente a um cargo no Senado Federal. Mas, por enquanto, nada definido.