Em 11 de outubro de 2024, a IstoÉ Dinheiro viveu um episódio inédito em quase três décadas de circulação. A edição 1.401, que trazia a reportagem “Fundo Garantidor de Crédito em risco?”, foi retirada das bancas por ordem da própria Editora Três. Assinada pela repórter Jaqueline Mendes, a matéria detalhava os sinais de deterioração do Banco Master e os riscos que ele representava ao sistema financeiro.
O recolhimento, segundo diretores de redação da editora naquela época, teria sido determinação direta de Daniel Vorcaro, então controlador do Master e sócio oculto da família Alzugaray. Àquela altura, sua participação na editora era tratada como segredo, embora conhecida internamente. O episódio expôs o alcance de sua influência e antecipou sua estratégia: controlar narrativas e proteger o banco por meio de investimentos em comunicação.
O alerta publicado pela revista – e que Vorcaro tentou apagar – mostrava como o Master havia crescido de forma acelerada ao atrair clientes com CDBs que pagavam até 140% do CDI. A fórmula funcionou por um tempo: a carteira de captação saltou para R$ 45,6 bilhões em junho de 2024, mais de oito vezes o registrado três anos antes. Mas o modelo pressionou o sistema e levou o Banco Central a impor regras mais duras, como contribuições extras ao Fundo Garantidor de Crédito para instituições que dependiam demais desse tipo de emissão.
Enquanto a regulação avançava, o Master se aproximava do limite. O que muitos viam como expansão agressiva já era, para analistas, sinal de risco crescente.
Paralelamente, Vorcaro movimentava-se nos bastidores para construir um conjunto de veículos capaz de influenciar debates econômicos e políticos. Com o apoio dos parceiros Flávio Carneiro e Antônio Freixo, o “mineiro”, ele investiu em participações no Brazil Journal, nas operações digitais de IstoÉ e IstoÉ Dinheiro, no portal PlatôBR e no site de Léo Dias. Também tentava assumir o comando do Correio Braziliense e do Estado de Minas usando precatórios para negociar dívidas fiscais dos Diários Associados.
A ofensiva não era apenas empresarial. Vorcaro buscava ampliar seu alcance político em Brasília, aproximando-se de figuras do centrão como Ciro Nogueira e Michel Temer. Nos bastidores, acreditava que uma combinação de influência política e presença midiática poderia destravar a venda do Banco Master para o BRB, negócio que havia sido barrado pelo Banco Central.
Na véspera de sua prisão, o grupo anunciou que seria vendido para a financeira Fictor e para investidores dos Emirados Árabes. Horas depois, antes que qualquer negociação avançasse, o Banco Central decretou a liquidação do Master e a prisão de Vorcaro, detido no aeroporto ao tentar embarcar para Dubai.
Mesmo diante de um dos maiores escândalos financeiros recentes, os veículos dos quais o banqueiro era próximo não noticiaram o fato. Até a publicação desta matéria, Brazil Journal, PlatôBR e IstoÉ ainda permaneciam em silêncio sobre o Master.
Geraldo Samor afirmou ao jornalista Leonardo Attuch, do Brasil 247, que é sócio apenas de Flávio Carneiro, não de Vorcaro, e que mantém independência editorial. Garante ainda que Carneiro e Vorcaro não são sócios entre si, embora Carneiro seja conhecido no mercado como operador do banqueiro.
Com a queda do Banco Master, a estratégia de controle da informação veio à tona de forma irônica: a mesma reportagem que Vorcaro tentou enterrar um ano antes acabou se confirmando integralmente. E a tentativa de construir um escudo midiático – de revistas recolhidas das bancas à aquisição de veículos – não foi suficiente para evitar o desfecho.
O episódio deixa uma marca profunda no setor financeiro e na imprensa brasileira: a lembrança de que, mesmo com poder e influência, a realidade sempre encontra seu caminho.