Em entrevista ao podcast Política de Primeira, a ex-senadora e ex-conselheira do TCE-MS (Tribunal de Contas do Estado) Marisa Serrano (PSDB) reviveu um dos capítulos mais marcantes de sua trajetória política: a eleição ao governo de Mato Grosso do Sul em 2002, quando enfrentou o então governador Zeca do PT, que buscava a reeleição. A disputa, marcada como uma das mais acirradas da história da política estadual, terminou com a reeleição de Zeca e projetou Marisa para a disputa ao Senado Federal nas eleições seguintes.
Ao relembrar a disputa, Marisa descreveu a corrida eleitoral de 2002 como “a campanha mais bonita” de sua vida. Seu símbolo era o girassol, marca que, segundo ela, teve forte impacto emocional entre os eleitores.
“Depois da campanha, quando eu andava por esse estado, tinha girassol em tudo quanto era jardinzinho. Até hoje me mandam girassóis porque sabem que foi a marca da campanha.”
A ex-senadora lembra que o primeiro turno foi marcado por entusiasmo e forte mobilização popular. Apesar disso, sua ida ao segundo turno não era vista como provável pelos analistas políticos da época.
“Marqueteiro nenhum me colocava no segundo turno. Eu não existia no segundo turno. O governador estava sentado na cadeira de governo, com a chave do cofre e a caneta na mão.”
Mesmo diante desse cenário, Marisa alcançou 447.396 votos, avançando para enfrentar Zeca do PT, que liderou o primeiro turno com 509.843 votos.
Uma candidatura construída de última hora
Um dos pontos centrais da entrevista foi o relato de como sua candidatura surgiu. Marisa contou que não era o nome previsto para representar a aliança PSDB–PMDB naquela eleição. O esperado candidato era o então prefeito de Campo Grande, André Puccinelli, que desistiu. Outras opções também não avançaram, até que a cúpula do PMDB bateu à porta da casa de Marisa.
“Não tinha candidato. Aí o que fizeram? ‘Toma que o filho é teu’. Entregaram para o PSDB.”
Ela relembra ter convocado os aliados Reinaldo Azambuja e Márcio Monteiro para discutir a proposta, ciente das condições adversas.
“Nosso partido era pequenininho, não tinha planejamento, não tinha dinheiro. Mas era uma forma de nos posicionarmos, de colocar nossas ideias.”
O segundo turno e a perda de apoio
Para Marisa, o maior desafio veio após a surpreendente classificação ao segundo turno. Segundo ela, a nova etapa reconfigurou alianças, e parte dos apoios do primeiro turno não se manteve.
“O segundo turno é um rearranjo político. Entram outros interesses. Quando percebemos, a nossa coligação não estava mais fisicamente na campanha.”
Ela relatou ter recebido ligações de prefeitos informando que orientações partidárias pediam o recuo de equipes de campanha. Em alguns municípios, porém, lideranças mantiveram o apoio, mesmo sob pressão:
“Teve prefeito que disse: ‘Mandaram retirar todo mundo, mas a minha turma continua com você’. E ganhamos naquele município no primeiro e no segundo turno.”
Apesar das adversidades, Marisa chegou ao fim da campanha com força política e expressiva votação.
Resultado das Eleições de 2002
O segundo turno terminou com Zeca do PT reeleito, somando 581.545 votos contra 500.542 votos de Marisa Serrano, uma diferença de 81.003 votos.
A derrota, porém, abriu caminho para um novo capítulo. Em 2006, Marisa voltou às urnas e fez história ao ser eleita a primeira mulher senadora de Mato Grosso do Sul, com 607.584 votos, superando Egon Krackhecke, que obteve 456.363 votos.
Mesmo sem a vitória, Marisa avalia a disputa de 2002 como uma das experiências mais enriquecedoras de sua vida pública.
“Perdi por poucos votos, mas foi uma campanha maravilhosa. Foi a campanha mais bonita, mesmo que as outras eu tenha ganho mais facilmente.”