• Home
  • Economia
  • Brasil perde R$ 1 trilhão por ano em transições profissionais mal resolvidas

Brasil perde R$ 1 trilhão por ano em transições profissionais mal resolvidas

O Brasil está deixando de gerar mais de R$ 1 trilhão por ano por causa de falhas estruturais nas principais transições da vida profissional. O valor, que corresponde a 9% do PIB, aparece na pesquisa global “Perdidos na Transição”, conduzida pela Pearson e divulgada em primeira-mão para o BRAZIL ECONOMY. O relatório ganha sua edição dedicada ao mercado brasileiro e revela um cenário de perda econômica em escala muito maior do que a registrada em outras economias analisadas.

Em entrevista exclusiva, a CEO da Pearson no Brasil, Cinthia Nespoli, afirma que o resultado surpreendeu até quem já acompanha estudos semelhantes em países mais maduros. Segundo ela, enquanto a Califórnia, segunda economia com maiores perdas no levantamento, registra impacto de 4,8% do PIB, o Brasil chega a 9%, uma diferença que evidencia a profundidade das lacunas educacionais e profissionais brasileiras.

A maior parte das perdas está concentrada na transição entre empregos, etapa que por si só responde por R$ 701 bilhões anuais. O dado revela um problema persistente: apesar do desemprego baixo segundo estatísticas oficiais, o tempo médio entre uma vaga e outra no mercado formal brasileiro ultrapassa dois anos. Esse intervalo prolongado gera desmotivação, abandono da busca por trabalho, subocupação e aceitação de vagas abaixo da qualificação.

A situação é agravada por um quadro educacional frágil. Entre jovens de 18 a 24 anos, 24% não estudam nem fazem qualquer tipo de treinamento. Até os 35 anos, 27% não concluíram o ensino médio. Esses fatores combinados impedem o avanço das carreiras e dificultam a entrada plena dos jovens no mercado, perpetuando um ciclo de perdas sucessivas.

Nespoli destaca que o estudo considera apenas dados da economia formal, o que significa que não capta movimentos de informalidade, múltiplas ocupações ou empreendedorismo, cada vez mais presentes no país. Ainda assim, ela afirma que isso não altera a constatação central. “Existe um descompasso estrutural entre o que se ensina nas escolas, o que as empresas demandam e o que a economia brasileira realmente exige”, afirmou.

Nas economias mais avançadas avaliadas pela Pearson, como Estados Unidos, Reino Unido e Austrália, a principal fonte de perda já está ligada à automação e à entrada acelerada de novas tecnologias. No Brasil, esse impacto é significativo, estimado em R$ 247 bilhões por ano, mas ainda é menor que o prejuízo provocado pela transição entre empregos. A passagem da escola para o mercado também contribui para o rombo, com perdas calculadas em R$ 137 bilhões, reforçando que o país continua enfrentando dificuldades básicas de formação e qualificação. Para a CEO, isso revela que o Brasil ainda não consegue resolver o elemento mais simples da cadeia: garantir que as pessoas se mantenham empregadas e produtivas, mesmo em um cenário de mudanças tecnológicas profundas.

“A redução dessas perdas depende de um movimento conjunto entre governo, empresas e trabalhadores. O Estado precisa avançar na melhoria da qualidade do ensino, atualizando currículos para reduzir o descompasso entre formação e demanda real”, disse.

As empresas, por sua vez, têm papel decisivo, já que substituir funcionários sai mais caro do que requalificá-los. Cinthia explica que a automação não deve ser vista como uma ameaça inevitável, mas como uma oportunidade. De acordo com a executiva, o risco maior não está na tecnologia em si, mas na incapacidade de usá-la. A própria Pearson tem acelerado iniciativas com grandes empresas de tecnologia para apoiar esse processo, com destaque para a parceria com a Microsoft que resultou no Communication Coach.

A ferramenta, integrada ao Teams e ao Copilot, avalia automaticamente o desempenho do usuário em reuniões, medindo clareza, postura profissional, objetividade e até aspectos linguísticos. Em até dois minutos, o sistema envia um relatório com a análise da conversa e sugestões de melhoria. Segundo Nespoli, até profissionais experientes recebem recomendações surpreendentemente precisas, como ajustes de comunicação ou reforço de argumentos.

A solução também permite praticar entrevistas e reuniões com avatares virtuais. Ela destaca que muitos usuários aceitam melhor o retorno vindo da ferramenta do que de um gestor direto, porque não há carga emocional envolvida. A tecnologia, nesse caso, cumpre seu papel de apoio e desenvolvimento, não de substituição.

Nespoli ressalta que 62% dos profissionais ouvidos em outra pesquisa da Pearson consideram a comunicação a principal habilidade para crescer na carreira, mas poucos sabem por onde começar. O Communication Coach nasce como uma resposta a essa lacuna e como um exemplo de como ferramentas de IA podem tornar processos educativos mais eficientes, acessíveis e personalizados. Para a executiva, o maior desafio do mercado de trabalho brasileiro não é apenas absorver novas tecnologias, mas desenvolver a capacidade de “aprender a aprender”, competência que a Pearson vê como essencial para qualquer fase da trajetória profissional.

A executiva reforça que o Brasil tem uma vantagem demográfica importante por ser um país jovem, mas que corre o risco de desperdiçá-la se não superar rapidamente os gargalos educacionais e profissionais que travam a produtividade. Para ela, quem resistir à incorporação de novas tecnologias será o mais prejudicado, enquanto quem se abrir ao aprendizado contínuo tende a prosperar. “A missão é ajudar as pessoas a alcançarem a vida que imaginaram por meio do aprendizado ao longo da vida. E isso nunca foi tão urgente quanto agora.”

Clique aqui para acessar a Fonte da Notícia

VEJA MAIS

Demarcações de terras em MT podem gerar perdas de R$ 173 milhões e eliminar quase 500 empregos

O governo federal homologou em 17 de novembro três Terras Indígenas (TI) em Mato Grosso,…

Vereadores de Sinop aprovam 11 Projetos de Lei e mais de 70 proposições na 40ª sessão

A Câmara Municipal de Sinop aprovou, durante a 40ª sessão ordinária de 2025, realizada na…