Quando a gigante americana Microsoft está envolvida em um projeto, é natural que a primeira análise considere a empresa como protagonista da parte tecnológica. Não é o caso da parceria com a Amanco Wavin, que também envolve a Sanasa (Sociedade de Abastecimento de Água e Saneamento S/A), de Campinas, no interior de São Paulo. Nesse projeto, a Microsoft é financiadora e beneficiária do programa de economia de recursos hídricos. A companhia de saneamento é distribuidora e também beneficiária da iniciativa. Já a Amanco Wavin é responsável pela tecnologia que opera o serviço de gestão de redes de água e esgoto, uma solução inteligente que monitora continuamente a infraestrutura, identifica perdas e orienta ações preventivas para aumentar a eficiência hídrica.
Esse é um dos exemplos em que a Amanco Wavin, conhecida globalmente pelos seus produtos relacionados a tubos e conexões, atua como prestadora de serviços — segmento no qual entrou recentemente e pretende avançar nos próximos anos.
“Os serviços ainda representam um pequeno percentual no faturamento, mas têm crescido bastante. É uma das apostas que fazemos e vamos ampliar nosso portfólio. É importante para diversificação da receita e uma oportunidade para desenvolver novos negócios”, disse ao BRAZIL ECONOMY Sergio Costa, presidente da Amanco Wavin para Brasil e Argentina.
O projeto realizado em Campinas completou um ano em outubro. Nesse período, foram economizados 370 milhões de litros de água, a partir de sensores instalados em 1.137 pontos espalhados pela cidade para monitorar a pressão e a vazão do sistema de distribuição de água tratada.
Com inteligência artificial embarcada em um software, foi possível gerar um diagnóstico mais ágil e antecipado de possíveis pontos de perda nas redes de distribuição. As perdas na região alcançam de 40% a 50% dos recursos distribuídos. Com o projeto, caíram para apenas 17%, o que gerou uma economia de R$ 1,5 milhão.
“Foi apenas o primeiro ano do programa, que vamos continuar por 10 anos e ampliar para toda a cidade de Campinas, chegando a uma economia total de 18 milhões de metros cúbicos de água (equivalente a 18 bilhões de litros)”, afirmou Costa.
Essa solução de monitoramento inteligente da Amanco Wavin está presente em 14 municípios brasileiros, em parceria com dez companhias de saneamento, entre elas, além da Sanasa, Sanepar, Embasa, Aegea, Iguá e Sabesp. No total, já evitou o desperdício de 28 milhões de metros cúbicos de água (28 bilhões de litros) desde o seu lançamento, em 2021.
A Amanco Wavin possui outros serviços em sua carteira de soluções, como a revitalização de redes de distribuição de água e esgoto pelo método não destrutivo. “Conseguimos refazer a infraestrutura sem precisar quebrá-la totalmente, sem abrir valas enormes nas ruas”, explicou o executivo da Amanco Wavin.
Resultados financeiros
A companhia é uma das cinco linhas de negócios da Orbia, que globalmente faturou US$ 7,5 bilhões em 2024 e, neste ano, até setembro, registrou receita de US$ 5,7 bilhões — praticamente o mesmo resultado do mesmo período anterior.
A Amanco Wavin integra o pilar de construção e infraestrutura, responsável por 32% de todo o faturamento do grupo. O Brasil é a principal operação entre os 100 países em que a companhia atua nesse segmento, com 10% das vendas. Se a receita global da Amanco Wavin está em torno de US$ 2,5 bilhões, o mercado brasileiro gira em torno de US$ 250 milhões.
No último trimestre, quando o grupo faturou US$ 1,96 bilhão e cresceu 4%, o setor de construção e infraestrutura avançou 13%. Segundo relatório da companhia, o Brasil foi um dos responsáveis por esse desempenho positivo.
As outras quatro linhas de negócios da Orbia, de origem holandesa, são Soluções em Polímeros (Vestolit e Alphagary), Agricultura de Precisão (Netafim), Conectividade (Dura-Line) e Materiais Fluorados e de Energia.

Investimento em produtos
Se a Amanco Wavin desenvolve novos negócios a partir de serviços voltados ao saneamento básico, também continua investindo no desenvolvimento de sua operação para atender o mercado de construção civil com seus tubos e conexões — e para abocanhar uma fatia do agronegócio, que tem potencial para crescer, segundo Sergio Costa.
“O Brasil possui menos de 10% de áreas irrigadas. Existe um espaço muito grande ainda para os sistemas de irrigação avançarem no País”, disse o presidente da Amanco Wavin.
Para atender à demanda do agro, juntamente com saneamento e construção civil, a companhia aportou boa parte do investimento global de US$ 92 milhões (cerca de R$ 500 milhões) em duas de suas cinco fábricas do Brasil.
Foram ampliadas e modernizadas as linhas de tubos BIAX, com um aumento de 47% na capacidade produtiva das unidades de Sumaré (SP) e Suape (PE), onde são fabricados.
“São produtos em que o PVC orientado forma um tubo muito mais resistente. Somos pioneiros nessa tecnologia”, afirmou Costa ao comentar que o Brasil é estratégico para o grupo mesmo diante de uma macroeconomia desafiadora, com juros e inflação altos. “Mesmo em momentos difíceis, temos oportunidades.”