A falta de segurança no trevo do anel rodoviário da BR-163, que dá acesso ao Jardim Noroeste foi tema de uma audiência pública nesta sexta-feira (7), na Câmara Municipal de Campo Grande.
O debate reuniu moradores, vereadores e autoridades, mas contou com a ausência da CCR MSVia, concessionária que administra a rodovia, e da ANTT (Agência Nacional de Transportes Terrestres), responsável pela fiscalização.
O trecho tem um histórico de acidentes graves, incluindo um ocorrido em janeiro deste ano, que resultou na morte de Roger de Almeida, de 33 anos. A perda ainda abala a família, que esteve presente na audiência.
“A nossa família ainda está muito abalada. A gente está destruído porque ele era uma pessoa muito boa, muito amada, e está sendo muito difícil. Nossa reivindicação é que seja feito um quebra-molas, um radar, qualquer coisa que reduza a velocidade ali, além de sinalização, porque à noite o local é muito escuro e preocupante.”
Karina Chaparro, autônoma e cunhada de Roger
A insatisfação dos moradores levou a protestos poucos dias após o acidente e, agora, a uma mobilização na Câmara Municipal. A servidora pública Evimara Camposano reforçou o perigo constante no trecho.
“Ali se tornou um problema, um dos maiores do bairro. Precisamos de ação concreta agora, e não apenas de conversa e debates. O que a CCR vai fazer? Vai iluminar? Mudar a sinalização? Alterar o fluxo? Fechar o acesso? Precisamos de ações imediatas”, cobrou Evimara.

A ausência da CCR e da ANTT na audiência foi alvo de críticas. O vereador Professor Riverton (PP) classificou a falta como um “desrespeito” à Câmara e à população.
“Aquela região é urbana e precisa de ações imediatas para a segurança da população. É um desrespeito com esta casa e, principalmente, com as famílias que perderam entes queridos devido à falta de sinalização”, afirmou.
Em nota, a CCR informou que realizou uma reunião com moradores em janeiro e que já implementou medidas de segurança no local. No entanto, para quem utiliza a via diariamente, as ações não foram suficientes.
A audiência serviu para ouvir as demandas da comunidade, mas não tem poder de decisão, já que a rodovia é federal e qualquer mudança depende da bancada do estado no Congresso. O deputado federal Marcos Pollon (PL) afirmou que já cobrou providências da ANTT e da CCR.
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“O meu requerimento foi feito de forma institucional, então a resposta também tem que ser institucional. Isso é uma questão de respeito com as instituições, especialmente as legislativas”, disse.
Já o deputado Vander Loubet (PT) mencionou que há R$ 90 milhões previstos no orçamento para a construção de viadutos, incluindo um no acesso ao Jardim Noroeste.
“Esse viaduto pode resolver essa demanda, pela qual a população já vem se mobilizando desde o ano passado para sensibilizar as esferas federal, estadual e municipal. A verba já foi encaminhada”, afirmou.
Daqui um ano
Apesar disso, a Secretaria Municipal de Infraestrutura e Serviços Públicos (Sisep) ainda está na fase de elaboração do projeto, o que significa que as obras devem demorar.
“Estamos fazendo um estudo da região, das ruas, um georreferenciamento do local. Esse projeto é mais complexo e deve ser concluído em aproximadamente um ano”, explicou Múcio Teixeira, superintendente de projetos da Sisep.
Trecho perigoso na BR-163
Com 25 quilômetros dentro de Campo Grande, o anel rodoviário da BR-163 está entre os mais perigosos da cidade. Segundo a PRF (Polícia Rodoviária Federal), entre os quilômetros 480 e 490, foram registrados 514 acidentes e 14 mortes entre 2022 e 2025.
Acidentes no anel rodoviário da BR-163
- 2022: 164 acidentes (3 mortes)
- 2023: 149 acidentes (6 mortes)
- 2024: 184 acidentes (4 mortes)
- 2025: 17 acidentes (1 morte)
Para a PRF, esse é um dos trechos mais críticos da BR-163 no Mato Grosso do Sul.
“São dez quilômetros de rodovia onde veículos de passeio se misturam com veículos pesados. Há muito tempo a cidade cresceu e essa já não é apenas uma via de tráfego rodoviário. Quando há esse conflito de trânsito, os acidentes acontecem, muitas vezes com vítimas fatais”, explicou um porta-voz da PRF.
A Prefeitura de Campo Grande defende a construção de um novo contorno viário fora da cidade como solução definitiva. No entanto, o projeto aprovado pela ANTT no processo de repactuação da concessão prevê apenas a duplicação do anel rodoviário.
A definição sobre a continuidade da CCR na administração da rodovia ou a entrada de uma nova concessionária deve ocorrer em maio, com o leilão da concessão. Enquanto isso, moradores seguem cobrando sinalização, semáforos e fiscalização para reduzir os riscos.