A segunda-feira de depoimentos na CPI do Transporte Público de Campo Grande foi marcada por bate-boca e até pelo choro do ex-diretor do Consórcio Guaicurus, João Rezende. Rezende foi às lágrimas ao final do depoimento, após se desentender com os vereadores e chegar a dizer que ficaria em silêncio.
João Rezende chorando durante depoimento. (Foto: Reprodução/CâmaraCGMS)
A tensão se instaurou logo no início da oitiva. João Rezende questionou os parlamentares, mais de uma vez, se eles haviam lido o contrato da Prefeitura com o consórcio. O ex-diretor se exaltou ao ser indagado pela relatora da CPI, vereadora Ana Portela (PL), sobre qual teria sido o lucro do consórcio desde que assumiu a administração do transporte na capital.
“A senhora leu o contrato? Eu vou requerer o meu direito de permanecer em silêncio. No dia em que os senhores quiserem saber a verdade, podem me chamar.” — João Rezende
Passados alguns minutos e depois de ignorar as perguntas de Portela, contudo, João Rezende voltou a responder aos questionamentos feitos pelo vereador Junior Coringa (MDB).
Em sua fala, o ex-presidente do consórcio admitiu que a empresa não está cumprindo cláusulas contratuais, como a renovação periódica da frota, que deveria manter uma idade média de cinco anos.
Atualmente, conforme o ex-presidente, pelo menos 98 ônibus que já deveriam ter sido trocados ainda estão operando nas ruas de Campo Grande.
Segundo ele, a falha está diretamente ligada à ausência de ações do Executivo municipal, como a atualização do equilíbrio econômico-financeiro do contrato.
Ao ser questionado sobre a determinação da Agereg (Agência Municipal de Regulação dos Serviços Públicos), que obrigou o consórcio a substituir 98 ônibus antigos por novos veículos, João Rezende afirmou que a medida é impraticável diante da situação financeira da empresa.
“Não temos dinheiro para assumir a prestação de novos ônibus e não vamos comprá-los enquanto não houver condições financeiras. Não vamos aplicar um golpe na cidade. Estamos em uma situação vexatória.”
João Rezende.
Ao final do depoimento, João Rezende chorou após ser questionado pelo vereador Wilson Lands (Avante), que não faz parte da CPI, mas pediu para fazer perguntas, sobre o que poderia ser feito para melhorar o diálogo entre a Prefeitura e o consórcio.
O ex-presidente acabou chorando, foi consolado pelo filho e pelo advogado, e deixou a mesa de oitivas.
“Saio daqui de alma lavada. Me coloco à disposição, vamos salvar o transporte público de Campo Grande. Fico contente, muito agradecido”
João Rezende.
O segundo a depor no dia foi Leonardo Dias Marcello, que há um ano e dois meses é diretor jurídico-administrativo do consórcio. Assim como João Rezende, ele afirmou que os investimentos no sistema foram paralisados devido à ausência de revisão contratual por parte do Poder Executivo.
“O que a gente mais quer é uma tarifa que remunere o consórcio nas premissas que foram postas na licitação, para que a gente possa voltar a fazer os investimentos necessários. Se o município quiser que a gente faça investimento em frota com ar-condicionado, que a gente assuma terminal, nós estamos dispostos. Só que, para isso acontecer, é preciso avaliar a situação do lado empresarial. A gente não pode estar investindo recursos em um sistema que não te remunera adequadamente. E quem tem a obrigação de garantir isso é o poder concedente.”
Leonardo Dias Marcello.
As últimas oitivas desta terceira fase da CPI acontecem na quarta-feira (18), quando serão ouvidos, a partir das 13h, Themis de Oliveira, atual diretor-presidente do consórcio, e Paulo Constantino, sócio-proprietário do Consórcio Guaicurus.