O senador José Lacerda (PSD) disse no Política de Primeira, que trabalha para aproximar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva do novo presidente da Bolívia, Rodrigo Paz, e articula um encontro entre os dois. Segundo ele, Mato Grosso depende diretamente dessa relação porque a economia da região de fronteira só avança se os dois países avançarem juntos. “Não tem como a fronteira do Brasil se desenvolver se a Bolívia não desenvolver”, afirmou.
Lacerda disse que esteve recentemente na Bolívia, em São Inácio, onde recebeu uma homenagem do governo local, e que mantém diálogo com autoridades bolivianas. Ele afirmou que já levou o tema ao Palácio do Planalto e que há interesse em construir uma agenda entre os dois presidentes. A prioridade, segundo ele, é integração logística e econômica, com rota bioceânica ligando Mato Grosso ao Pacífico via Bolívia.
Para o senador, esse tipo de integração é urgente porque a faixa de fronteira continua tratada como área de risco e não como área de desenvolvimento. Ele afirma que o governo brasileiro, e também o governo boliviano, nunca estruturaram política pública consistente para aquela região. “A faixa de fronteira beneficia 11 milhões de pessoas e continua abandonada”, disse.
Lacerda cita dois pontos como críticos: segurança e pobreza. Ele diz que o discurso nacional costuma resumir a fronteira a tráfico e facção criminosa, mas que a raiz do problema é econômica. “O maior indicativo para o crime é a pobreza. Se você olhar o pior IDH de Mato Grosso, está nas cidades de fronteira. A pior renda per capita está nas cidades de fronteira. Isso não é coincidência”, afirmou.
Segundo ele, a ausência de investimentos acumulada por décadas criou um cenário em que a fronteira virou território vulnerável em vez de corredor produtivo. “O governo central do Brasil e o governo central da Bolívia, durante muitos e muitos anos, não se preocuparam em fazer investimento para ter desenvolvimento, para ter qualidade de vida”, disse.
O senador afirma que já apresentou emenda no Senado sobre o tema da faixa de fronteira e quer resolver um impasse histórico sobre a regularização de terras nessas áreas. Ele cita que ainda hoje há insegurança sobre a titularidade de propriedades próximas ao limite internacional e defende dar segurança jurídica a quem já vive e produz ali. Para ele, isso é condição para atrair empresa, gerar emprego formal e reduzir o caminho fácil do crime organizado.
Lacerda também liga essa agenda à infraestrutura que está em discussão para a região oeste de Mato Grosso. Ele cita a Zona de Processamento de Exportação, a ZPE, e lembra que trabalha para ajustar regras tributárias e alfandegárias que, segundo ele, afastavam investidores. Defende ainda a retomada da navegação nos rios e diz que o estado precisa consolidar uma ligação permanente com a Bolívia por Cáceres, Vila Bela e São Inácio, rota que ele chama de primeira rota bioceânica passando por Mato Grosso.
Veja trecho do episódio abaixo:
Na avaliação dele, isso não é só logística. É disputa por futuro. A tese é que se o oeste de MT continuar dependente só de aposentadoria e programas sociais, como ele descreveu, a fronteira vai seguir dominada pela criminalidade. Se virar corredor de indústria, porto seco, ZPE e rota de exportação, vira outra coisa: arrecada, emprega e reduz a pressão do crime.
“Não é uma linha territorial que separa um irmão do outro”, disse o senador. “A soberania de cada país tem que ser respeitada, mas a vida humana também tem que ser respeitada.”
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