A bolsa da Argentina recuou mais de 5% nesta segunda-feira (17), após o presidente do país, Javier Milei, ter feito uma publicação, na sexta-feira (14), em apoio a um criptoativo que derreteu.
“A reação dos mercados hoje era esperada, natural por conta da controvérsia envolvendo criptomoeda na última sexta. Ainda é cedo para dizer se será pontual ou não. Teremos que acompanhar o desenrolar das investigações, maiores detalhes”, ponderou Patricia Krause, economista-chefe Latin América da Coface.
A criptomoeda $Libra disparou e chegou a ser avaliada em US$ 5 cada após o comentário do argentino.
Na sequência do apoio de Milei pela rede social X, o ativo despencou para menos de US$ 1 a unidade. Ao ver o movimento, o presidente da Argentina apagou a postagem e disse que não tinha nenhuma relação com a moeda digital.
“Eu não estava ciente dos detalhes do projeto e, quando descobri, decidi não continuar conferindo publicidade a ele”, afirmou Milei eapós apagar a publicação.
O planejamento por trás do ativo era de, a princípio, atrair capital para desenvolver startups dos setores de criptomoedas e inteligência artificial (IA), contou ao CNN Money Felipe Martorano, analista de cripto da Levante.
Porém, o que se avalia é que os investidores por trás da $Libra tenham realizado um movimento conhecido como rug pull (“puxada de tapete”, em tradução livre). A manobra consiste em atrair investidores legítimos para valorizar o ativo, e então se desfazer de posições para realizar lucros, liquidando o valor no fim das contas.
“O presidente Milei começou a alegar que não tinha as informações necessárias suficientes, que não estava a par do projeto como um todo. Entretanto, isso não o isenta da responsabilidade como presidente da Argentina, e não poderia divulgar sem ter as informações necessárias”, avaliou Martorano.
O caso marca agora uma das maiores crises para a Casa Rosada desde o início do mandato do presidente libertário, em dezembro de 2023. Parlamentares da oposição ameaçam apresentar um pedido de impeachment contra Milei.
“Esse escândalo, que nos envergonha em escala internacional, exige que apresentemos um pedido de impeachment contra o presidente”, disse o legislador oposicionista Leandro Santoro.
No domingo (16), veículos argentinos, como Clarín e La Nación, reportaram que foi apresentada a primeira denúncia criminal contra Javier Milei relacionada ao caso.
De acordo com os veículos, a denúncia foi apresentada pelos advogados Jonatan Baldiviezo e Marcos Zelaya, pela engenheira María Eva Koutsovitis e pelo ex-deputado e presidente do partido de esquerda Unidade Popular, Claudio Lozano.
A Presidência argentina buscou explicar que Milei se reuniu com representantes da empresa em outubro do ano passado. Na ocasião, um “projeto de financiamento de empreendimentos privados na República Argentina utilizando a tecnologia blockchain foi apresentado”.
Por isso, acrescenta o comunicado, “o presidente compartilhou a publicação em suas contas pessoais, assim como faz com empreendedores que desejam lançar um projeto na Argentina para criar empregos e obter investimentos”.
Agora, o gabinete de Milei afirma que o presidente acionou o “Gabinete Anticorrupção para apurar se houve conduta imprópria por parte de algum membro do governo nacional, incluindo o próprio presidente”.
O comunicado também informa que Milei determinou uma “investigação urgente” sobre o lançamento da criptomoeda $Libra e “todas as empresas ou pessoas envolvidas em tal operação”.
Para isso, será criada uma força-tarefa investigativa ligada à Presidência, “composta por representantes dos órgãos e organizações com poderes relacionados a criptoativos, atividades financeiras, lavagem de dinheiro e outras áreas relacionadas”.