No remake da novela Vale Tudo, o luxo tinha endereço certo no Rio de Janeiro: o centenário Copacabana Palace, hotel pertencente à rede Belmond, do grupo LVMH. Fora da trama de sucesso da Globo, essa verdadeira instituição, que se apresenta como o “lendário playground do glamour carioca”, sempre evocou, no imaginário coletivo, a promessa de hedonismo que a protagonista Odete Lara encarnava. Mas o Copa não está sozinho nessa condição. Além dele, duas estrelas da hotelaria internacional se destacam por oferecer acomodações suntuosas, serviços de excelência e alta gastronomia: o Fairmont Rio de Janeiro Copacabana e o Sheraton Grand Rio Hotel & Resort.
São hotéis de luxo que transformam a experiência de se hospedar na Cidade Maravilhosa em uma verdadeira celebração para os sentidos — especialmente pelas paisagens que se descortinam das janelas e pela qualidade de seus cobiçados restaurantes.
Primeiro representante da marca Fairmont na América do Sul, o hotel de luxo do Grupo Accor foi inaugurado em 2019, em frente ao Posto 6 de Copacabana. Rapidamente, o endereço se consolidou como ponto de encontro de turistas e cariocas. Inspirado na elegância dos anos 1950, o projeto assinado pela arquiteta Patrícia Anastassiadis traduz a bossa e o requinte de uma cidade que respira mar e arte. O Fairmont acolhe exposições de artistas brasileiros e apresenta boa música em apresentações à beira da piscina de borda infinita, no sexto andar, com vista majestosa da orla.
A atmosfera de luxo descontraído é valorizada pela busca de brasilidade e se estende por cada ambiente — das lojinhas do piso térreo ao spa, passando pelo lounge reservado aos hóspedes Fairmont Gold, no quarto andar. Mas é no Marine Restô que essa identidade fica mais evidente. O comando é do chef francês Jérôme Dardillac, radicado há três décadas no Brasil. “Apresentar aos visitantes o que temos de melhor é uma missão para mim”, disse o chef, que morou em vários estados brasileiros e traz para o cardápio ingredientes e histórias de cada região.
O menu é uma viagem culinária pelo país. No couvert, a broa de milho com manteiga de garrafa defumada e azeites gaúchos já antecipa a proposta da casa: resgatar memórias e exaltar produtores locais. Nas entradas, destacam-se o vinagrete de frutos do mar com brisa cítrica, as lâminas de namorado cru com maracujá e pimenta-de-cheiro, e as texturas de beterraba com espuma de Catupiry e mel.
Nos pratos principais, a riqueza de sabores se amplia: a moqueca de dourado da colônia de pescadores do Posto 6 representa a parceria do hotel com comunidades locais; o namorado grelhado com purê de banana assada e farofa de amendoim homenageia o Espírito Santo; e o arroz de pato no tucupi com farofa de urucum leva o paladar direto ao Pará.
Também da Amazônia vem o pirarucu de manejo grelhado na Josper, com emulsão de manteiga de garrafa e casca de abacaxi, mel de abelhas nativas, espuma de palmito pupunha de reflorestamento e crocante de cascas e talos — uma receita que sintetiza a inventividade de Dardillac.
Na sobremesa, a viagem continua com o incrível chocolate em formato de cacau, que precisa ser quebrado com um martelinho para revelar seu interior cheio de sabores e texturas. A brasilidade ainda aparece na escolha dos vinhos da casa, produzidos pela vinícola gaúcha Cristofoli Vinhos de Família.
Tudo pode ser degustado com a vista deslumbrante da praia de Copacabana, onde o som das ondas completa a experiência sensorial. Nas noites de lua cheia, quando o céu está limpo, as luzes se apagam às 19h no Marine Restô e no Spirit Copa Bar para que brilhe o esplendor da paisagem — mais um tributo à natureza, que se observa também no design brasileiro do interior do Marine. “Queríamos um espaço que fosse ao mesmo tempo sofisticado e afetivo — como o Rio”, resume Netto Moreira, diretor-geral do hotel.
Praia particular
Enquanto o Fairmont celebra a elegância dos anos dourados, o Sheraton Grand Rio Hotel & Resort reafirma sua posição como um dos símbolos mais longevos da hotelaria de luxo no Brasil. Completando 51 anos em 2025 e hoje pertencente à rede Marriott, ele ainda mantém o título de único resort “pé na areia” da Zona Sul carioca — privilégio que o diferencia desde o início.
A charmosa praia do Vidigal é quase privativa e traz a sensação de tranquilidade de um oásis particular. O acesso direto dos hóspedes se dá por uma escada na área onde estão as piscinas, a Casa da Cachaça (restaurante casual adaptado de um antigo barracão de pescadores) e O Casarão (steakhouse).
Além desses, há mais dois restaurantes no Sheraton, o que permite aos hóspedes esquecerem que o badalado Leblon está logo ali ao lado. Enquanto o italiano Bene, no térreo, é uma opção mais informal, o elegante L’Etoile é literalmente o ponto alto da experiência gastronômica do resort. Ele fica no 26º andar, com uma das vistas mais espetaculares do Rio, e seu menu acaba de ganhar uma releitura a cargo do chef chileno Juan José Molina.
A proposta é valorizar a sustentabilidade e o frescor dos produtos sazonais. “Queríamos representar o oceano e sua generosidade sem perder o respeito pelos recursos naturais”, afirmou Molina ao apresentar seu cardápio primavera-verão, em uma noite na qual também estava na casa o chef consultor Jean-Paul Bondoux, que comandou a criação do L’Etoile em 2014.
Entre as criações de Molina, o ceviche especial com polvo grelhado, camarões e peixe curado é um convite à leveza. O magret de pato ao molho de vinho do Porto com abacaxi, peras e bok choy (uma verdura chinesa) revela o equilíbrio entre técnica e sensibilidade.
O peixe do Atlântico marmorizado em tinta de lula com purê de couve-flor e missô é pura arte no prato. E, para quem prefere carne, o Filé à Rossini, com seu indefectível foie gras, é uma tentação que desmancha na boca. “Buscamos equilibrar a cozinha clássica francesa e a criatividade brasileira”, disse Bondoux, há 40 anos radicado em Punta del Este, no Uruguai, onde é dono do La Bourgogne Relais & Châteaux.
A combinação de dois mundos aparece também na confeitaria, com a chef Mariana Ribeirinha levando frescor tropical à pâtisserie francesa — como no Paris-Brest (doce criado no final do século XIX em homenagem à então popular corrida de ciclismo entre as duas cidades), que leva sorvete de manjericão e maracujá, sobremesa que já se tornou assinatura da casa. Em outra criação que exige muita técnica, ela combina texturas da castanha e da carne do caju (incluindo um sorvete de caju amigo) em um resultado divino.
Recomendado pelo Guia Michelin 2024, o L’Etoile é hoje um dos endereços mais sofisticados do Rio, combinando alta gastronomia, serviço irrepreensível e um pôr do sol que parece feito sob medida para brindar a vida com uma taça de champanhe — ou com o ótimo espumante da casa, da vinícola Viapiana, de Flores da Cunha (RS).
Serviço
Marine Restô – Fairmont Rio de Janeiro Copacabana
Av. Atlântica, 4240 – Copacabana. Tel.: (21) 2525-1232
Chef executivo: Jérôme Dardillac
Funcionamento: diariamente, das 12h às 23h.
