Ninguém nunca imaginou que o etanol hidratado, que é uma opção para incentivar a descarbonização da frota de veículos do Brasil, vem se tornando um pesadelo – quase que mensal – para os consumidores de Cuiabá e Várzea Grande. O biocombustível que pode ser produzido da cana-de-açúcar ou do milho, registrou nova alta no começo dessa semana e já aproxima de R$ 4,50 o litro, na bomba, sendo o maior patamar da história.
Mato Grosso que é o maior produtor de milho do Brasil e se destaca no cultivo da cana, em nível nacional, vem registrando uma série de altas consecutivas no litro dessa matriz energética que atualmente está muito mais cara que o gás natural, em R$ 4,05 o metro cúbico.
Na última segunda-feira, postos revendedores das cidades derem início à alta que tirou – o então recorde de preços em cerca de R$ 4,47/4,49 – que mais uma vez pegou todos os consumidores de surpresa. No acompanhamento semanal realizado pelo MT Econômico, observou que mesmo com mais esse reajuste, alguns postos ainda revendiam o biocombustível no ‘valor antigo’ de R$ 4,37/4,39, mas o movimento de alta deverá ser generalizado nas próximas horas.
Em relação ao peso no bolso, uma tanqueada de 50 litros que até a nova alta custava cerca de R$ 219,00, passa agora a R$ 224,50, alta de R$ 5,5. Vale lembrar que o segundo semestre começou com o litro a R$ 3,47/3,49, ou seja, nesse período a alta é de cerca de R$ 1 real por litro. Numa tanqueada, a diferença a mais para o bolso do consumidor é de R$ 50. Em percentual a alta é de mais de 28%.
Nos postos, houve frentista, que operando no valor ‘velho’, se surpreendeu com a notícia de que em outras revendas o preço estava majorado. “Pelo menos aqui, não se falou nada de alta”, afirmou um funcionário de posto bandeirado.
Já no começo da noite, em um outro estabelecimento que começou o dia com um preço de bomba e finalizou com o litro do etanol mais caro, o professor Ronaldo Britto, estava inconformado. “Passei hoje cedo aqui e não tinha esse valor não. Vim abastecer, porque abasteço duas vezes na semana, e o valor é outro. Onde vamos parar? Como se o etanol aumentando tanto, tá sofrendo mais que a gasolina e o diesel que têm variação direta do dólar e da política internacional”, argumentou.
Brito disse ainda que carro 100% é um sonho, porque além de caro, não há estrutura suficiente no Brasil. “Somos incentivados a adotar o etanol pelo discurso da redução da emissão de gases de efeito estufa, mas quem ajuda o trabalhador? De que adianta sermos campeões na produção de milho, se depois que o milho se tornou matéria-prima o preço do litro só faz disparar”.
O entregador, Maxwillian Pedro de Queiróz, pede ajuda. “Por favor, Ministério Público e Procon, entrem em ação, porque do jeito que está, não sei onde vai parar. Eu tenho por hábito abastecer R$ 50, com o litro a R$ 4,39 eu estava levando cerca de 11 litros. E agora? Vou seguir gastando o mesmo cinquentão, mas levando muito menos. Se isso não é um assalto ao bolso, eu não sei o que é”, exclamou.
REPASSE SENDO FEITO – O levantamento semanal do CEPEA/ESALQ, divulgado no final da semana passada, mostrava que o preço do etanol hidratado seguia em alta constante em Mato Grosso. Na semana de 3 a 7 de novembro de 2025, o indicador atingiu R$ 3.447,16 por metro cúbico (R$ 3,4416 por litro) o maior valor das últimas cinco semanas e um avanço de 3,2% em relação ao início de outubro.
De acordo com o Sindipetróleo-MT, as distribuidoras – desde o último final de semana – já estavam repassando esses aumentos aos revendedores, “o que eleva o custo do produto nas bases. Mesmo assim, os postos de combustíveis têm segurado o repasse ao consumidor final, operando com margens cada vez mais comprimidas para tentar evitar uma nova alta nas bombas”, segundo a entidade patronal.
A entidade alerta que, se a tendência de elevação continuar, será inevitável o repasse ao preço final, “já que os postos são o último elo da cadeia e não têm controle sobre o valor praticado nas usinas ou pelas distribuidoras”.
ALTA REGIONAL – Dados da última análise do Índice de Preços Ticket Log (IPTL), apontaram que, em outubro, o Centro-Oeste registrou um cenário de alta generalizada na comparação com as médias de setembro. O preço médio do etanol foi o que mais subiu, crescendo 1,81% e chegando a R$ 4,50, sendo esta a maior alta do combustível entre regiões do País no mês. A gasolina também aumentou, sendo comercializada a R$ 6,47 (alta de 0,62%). Ambos os tipos de diesel registraram leves altas. O diesel comum foi comercializado a R$ 6,26 (+0,64%), e o diesel S-10 foi encontrado a R$ 6,34 (+0,16%).
Entre os estados, o destaque foi a alta do etanol em Goiás, que avançou 4,09% no período, chegando a R$ 4,58.
“Os dados de outubro mostram uma clara tendência de alta em todos os combustíveis no Centro-Oeste, revertendo o cenário misto que vimos em setembro. O etanol liderou esse movimento, registrando o maior avanço regional (1,81%) e também o maior aumento do País. A gasolina e o diesel, por sua vez, apresentaram altas mais contidas. Esse aumento generalizado exige atenção do consumidor na hora de abastecer”, analisa Renato Mascarenhas, diretor de Rede de Abastecimento da Edenred Mobilidade.