O jornalista da ESPN Brasil, Abel Neto, fez um forte desabafo durante o programa “F360” nesta sexta-feira (7). Filho de Abel, histórico jogador do Santos, Abel Neto expôs o que pensa sobre o caso de racismo contra Luighi, jovem atacante do Palmeiras que foi chamado de macaco durante jogo no Paraguai na noite desta quinta-feira (6).
Torcedores do Cerro Porteño xingam, cospem e imitam macaco em direção a Luighi.
Abel Neto relata que já passou por situações semelhantes e compara o racismo a outros crimes.
“O que aconteceria em um estádio, em um jogo de futebol, se alguém estivesse com uma arma dando tiros, matando, assassinando alguém? E se estivessem estuprando alguém? Colocando fogo no estádio… Se estivessem esfaqueando alguém na frente de todos? Parariam o jogo, né? Mas o crime de racismo, normalizado por muitos, acontece na frente de todos, todo mundo testemunhando dentro de campo, com as câmeras de transmissão registrando, com celulares, e nada acontece. Isso não é novidade. Na minha infância, e isso me marcou muito, lá no final dos anos 80, eu já via nos estádios jogadores, árbitros, todos sendo chamados de macacos. A diferença é que naquela época não tinha celulares registrando tudo. E, hoje, nos meus quase 30 anos de jornalismo, passei por situações iguais ou muito parecidas com a que o Luighi passou, sendo chamado de macaco, sendo agredido, sendo insultado, sendo xingado em estádios no Brasil e fora do Brasil também. Eu sei muito bem o que acontece com o Luighi. É uma agressão que machuca muito e fica para o resto da vida. Um menino de 18 anos, que está começando a carreira, e passa por este tipo de coisa. E o que acontece com os criminosos que fazem isso? Nada!”, disse Abel, que seguiu com uma sugestão a jogadores e clubes sobre o que poderia ser feito para combater este tipo de crime.
“Jogadores de futebol do Brasil, vocês têm muita força. Abandonem o campo, saiam do campo. Jogadores, clubes, Palmeiras, Corinthians, Real Madrid, Flamengo, Atlético Mineiro, Grêmio, abandonem o campo. Não pode continuar um jogo de futebol com uma agressão como essa que marca a pessoa para o resto da vida. Essas pessoas têm que ser identificadas e responsabilizadas pelos atos que cometem. Essas coisas acontecem diariamente nos estádios, nas ruas, nas escolas, em mercados, hospitais, condomínios, quartéis, em todos os lugares. Continua acontecendo. Esse é o Brasil que a gente vive, esse é o mudo que a gente vive, e, amanhã, é o dia internacional da mulher. Tem muito a ver. Mulheres são agredidas, violentadas, estupradas todos os dias e a gente continua como se estivesse em um mundo normal. Não é normal, não. O mudo está doente e a gente tem que fazer alguma coisa”, completou.