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“Lula é populista e não fará nenhuma reforma se reeleito”, diz Maílson da Nóbrega

Quando se fala de lutar contra o dragão da inflação no Brasil, um dos homens que mais entende disso é Maílson da Nóbrega. Nascido na zona da mata paraibana, criou uma longa carreira no Banco do Brasil até se tornar ministro da Fazenda de José Sarney entre 1988 e 1990, em uma época onde o Brasil lutava com uma inflação de mais de 400% ao ano e vinha de uma série de planos econômicos sem sucesso.

A gestão de Nóbrega optou pela chamada política do “feijão com arroz”, sem os malfadados congelamentos de preços. Apesar das tentativas, Maílson não conseguiu domar o temido dragão e em 1993, pouco depois dele sair do ministério, a inflação já ultrapassava 2.000%.

Mais de 30 anos se passaram, a inflação está em índices bem menores, mas ainda assim desperta discussões sobre seu impacto no poder de compra do brasileiro. Maílson da Nóbrega, que hoje é sócio da Tendência Consultoria Integrada, concedeu uma entrevista exclusiva ao BRAZIL ECONOMY onde analisou sua trajetória na política e o atual momento da economia brasileira. Confira:

Como o senhor vê o atual momento econômico do Brasil?
A situação do Brasil é sem paralelo no planeta: atualmente, 96% do que o governo investe é de caráter obrigatório e só 4% está disponível para financiar temas importantes, como cultura, políticas sociais etc. Existem outros países que tem 50% de verba alocada, enquanto nós temos só esses 4%. Em 2027, a tendência é que 100% das verbas para investimento do governo serão ocupadas por despesas obrigatórias. Claro que não teremos shutdown, como nos EUA, mas o que vai acontecer é que o arcabouço fiscal vai acabar e isso gerará uma crise orçamentária com uma relação dívida/PIB mostrando o risco de insolvência no setor público. Teremos a maior crise fiscal da nossa história em dois ou três anos.

Quais as medidas ideais para sair deste cenário de crise?
O que consola é que toda crise serve como forma de gerar oportunidade de grandes transformações, já que os círculos de mudanças estruturais acontecem em momentos de complicações. As crises geram senso de urgência: foi assim quando instauraram o Plano Real, oriundo de uma crise inflacionária. Muitas pessoas achavam que poderia dar errado e isso estimulou a busca por reformas que gerassem confiança no campo macroeconômico do governo, como a Lei de Responsabilidade Fiscal, a aceleração das privatizações de empresas, concessões das rodovias entre outros pontos que levaram ao aumento da produtividade. Outro exemplo é o governo Dilma que foi um desastre econômico com descuido da inflação. Isso levou ao impeachment e o governo Temer foi o responsável pelo projeto “Ponte para o Futuro” que criou a Reforma Trabalhista e Lei das Estatais, por exemplo. Tudo isso fez do presidente Temer o maior reformador do Brasil se considerarmos o pouco tempo de governo. Então, uma crise pode gerar um novo ciclo que depende da boas ideais no IPEA, Banco Central e universidades, por exemplo.

Caso reeleito ano que vem, o presidente Lula tem capacidade de fazer essas reformas?
Elas passam por mobilizar o País em torno de reformas impopulares. Lula é populista e não fará nenhuma reforma se for reeleito. Quando a crise vier, o governo vai buscar essas medidas. Aí será tarde.

Neste caso, quem seria o candidato preferido do mercado para 2026?
Pelo que eu vejo, o governador Tarcísio de Freitas é um dos preferidos, mas ele depende do apoio da família Bolsonaro. Então é um processo bem delicado que exige paciência, muita conversa. Mas, na política as coisas mudam. Por outro lado, pela primeira vez em muitos anos o Brasil tem um grupo de governadores com disposição de assumir a presidência, como Ronaldo Caiado, Ratinho Jr. e Eduardo Leite. Nas eleições passadas, eram dois candidatos com alta popularidade e os outros lá atrás sem chance. Lula é muito competitivo, mas ainda é cedo para falar que sua reeleição já está definida.

Como ex-ministro da Fazenda, que conselho o senhor daria ao atual ministro Fernando Haddad?
Não tem conselho. Esta crise está contratada e vai acontecer, já que é um processo cuja gênese é a Constituição de 1988 onde foi permitido que a solução dos governos seja sempre pela via dos gastos. Mesmo que o ministro Haddad tenha disposição para resolver isso, e ele não tem, o PT não vai permitir que as medidas corretas sejam tomadas. Por isso eu digo que a última constituinte tem certos erros no campo econômico. Haddad vende a ideia de que está fazendo um grande ajuste fiscal e deixando uma boa herança, o que não é verdade.

O senhor pode me dar um exemplo prático de um equívoco dele?
Por exemplo, não tem qualquer estudo para falar da viabilidade da isenção do Imposto de Renda. Um dia o Lula acordou e decidiu isso, sem qualquer sentido. O pagamento de imposto é um exercício de cidadania. É errado fazer uma grande isenção. A boa ideia era taxar quem ganha mais, mas deve ter um IR mínimo para todo mundo. O próprio Haddad diz que cumpre as determinações do Lula, que tem arroubos populistas.

Mas, em meio a tantos erros que o senhor aponta, o boletim Focus divulgado esta semana aponta que a inflação não vai estourar o teto pela primeira vez neste ano…
Significa que a política monetária está funcionando e isso se deve ao Banco Central que elevou a Selic e não se curvou às pressões da Gleisi Hoffman, Lula e do próprio Haddad. Afinal, só no Brasil e nos EUA que temos ministros da Fazenda que são críticos aos bancos centrais de seus países.

Falando um pouco agora de sua trajetória na política, o senhor teve um dos cargos mais “ingratos” da década de 1980. Foi ministro da Fazenda em uma época onde a inflação ultrapassava a marca de 400% ao ano. Como foi essa experiência?
Como experiência foi boa. Exercer um cargo dessa complexidade em momento de crise é algo rico de ensinamentos, mas também carrega frustrações. Ao mesmo tempo, sei que prestei serviços ao meu país em um momento delicado e que muitas vezes não tem o devido reconhecimento. O Plano Real deve muito aos planos frustrados da década de 1980.

Em que sentido?
Naquela época não tínhamos qualquer controle da inflação por causa do contexto. Tivemos que encontrar um remédio específico para a tentar amenizá-la e nos deparamos com duas opções: a primeira era o congelamento de preço já tinha sido tentado no Brasil e na Argentina, mas fracassou nos dois países, embora em Israel tenha dado certo. Esse era o formato mais atrativo já que atende imediatamente aos apelos da população que quer preços mais baixos imediatamente. A outra opção, que foi a que escolhemos, era a inércia inflacionária, ou seja, a inflação de hoje seria a mesma dos outros dias. Isso possibilitou que em 1994 um sociólogo com pouca participação no ambiente econômico, chamado Fernando Henrique Cardoso, se baseasse em decretos parecidos com os que foram feitos na década de 1980 para apresentar a proposta de Plano Real ao presidente Itamar Franco. Por isso que digo que o sucesso da moeda atual brasileira deve muito às medidas anteriores, embora os pais do Plano Real digam que eles são os únicos responsáveis e não é bem assim que a coisa funciona.

Mas, a inflação quando o senhor deixou o Ministério era mais alta do que quando assumiu…
Quando eu cheguei no Ministério montei uma equipe técnica, com pessoas da própria Fazenda, da Receita, Banco do Brasil etc. Mapeamos que a situação era delicada, com um presidente sem capital político e popularidade lá embaixo. Sabíamos que não seria possível acabar com a inflação naquele momento, então nosso objetivo era fazer com que a economia andasse o mais próximo possível do normal até a eleição de 1989, quando chegaria um novo presidente apoiado pela população e com capital político renovado. Quando Collor assumiu, a gente poderia ter deixado a inflação explodir mais do que explodiu, então decidimos alinhar alguns preços para ajudar o novo governo, caso ele tentasse uma política de congelamento de preços. Fizemos o que foi possível.

O senhor é conhecido como o ministro que apostou no “feijão com arroz”. Se arrepende de algo que fez na época?
Não. Essa história do “feijão com arroz” foi um mero acidente que pegou. Eu ainda não tinha um plano concebido e os jornalistas me abordaram para saber o que eu faria. Eu fui falando de uma maneira onde não ficasse claro que eu ainda não tinha algo pronto e na saída uma jornalista perguntou qual era, afinal, o meu plano. Foi quando eu disse: “vou fazer o feijão com arroz”. No dia seguinte os jornais colocaram esse termo e ele ficou.

O senhor tem vontade de voltar à política?
Não tenho, até porque essa vontade nunca existiu. Eu nasci em uma cidade pequena e pobre do interior da Paraíba, virei funcionário do Banco do Brasil e depois fui emprestado para o Ministério da Fazenda onde acabei parando no cargo de ministro em um período duríssimo. Quando acabou, chegou a hora de tentar outros desafios profissionais. Hoje tenho a consultoria Tendências, que criei em 1996. Meu tempo na política passou e já dei minha contribuição.

 

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