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Mercado sem payroll pelo segundo mês calibra juros no escuro

Mercado sem payroll pelo segundo mês calibra juros no escuro

Pela segunda vez seguida, a primeira sexta-feira do mês não terá a divulgação do payroll. O shutdown mais longo da história dos Estados Unidos quebrou essa tradição, deixando o mercado financeiro no escuro. O foco então se desloca para o balanço da Petrobras e para os números da balança comercial da China.

De um lado, a estatal petrolífera anunciou lucro trimestral abaixo do esperado, mas dividendos robustos. De outro, as exportações chinesas atingiram o menor nível em oito meses, em meio à tensão nas relações sino-americanas. Ainda assim, são as apostas sobre os juros nos EUA que guiam os mercados globais.

Mesmo sem sinais de quando o governo norte-americano voltará a funcionar, os investidores veem novo corte do Federal Reserve em dezembro. Por aqui, prevaleceu a leitura de que o Comitê de Política Monetária (Copom) foi duro (“hawkish”), o que adiou para março as apostas de início da queda da taxa Selic.

Talvez seja tempo suficiente para a atratividade do diferencial entre as taxas de juros praticadas aqui e lá fora baixar a cotação do dólar. Ontem, a moeda fechou o dia em queda, cotada a R$ 5,35. Na semana, a desvalorização é de 0,6%, enquanto no ano está quase 15% mais barata para o brasileiro.

Mas o que se vê é a saída de capital externo da bolsa brasileira. Apesar de o Ibovespa ter cravado ontem nova pontuação máxima, na maior sequência desde 1994, os investidores estrangeiros venderam ações na B3 pela terceira sessão consecutiva neste mês, depois de retirarem R$ 1,13 bilhão em outubro – na segunda maior saída mensal do ano.

Migração entre mercados

Como dito aqui, o mercado doméstico está em um momento de migração de recursos. Ao favorecer as operações de carry trade, devido à manutenção dos juros básicos em 15%, o Banco Central encarece o hedge cambial. Traduzindo: fica mais caro para o investidor proteger suas posições de risco (em ações, por exemplo) na variação do câmbio.

Ao longo de 2025, os gringos reduziram suas apostas contrárias ao real: saiu de US$ 80 bilhões para menos da metade no início de outubro, quando alcançou o menor nível em mais de dois anos. Depois, essa posição comprada em dólar voltou a subir, batendo US$ 50 bilhões ainda antes do segundo corte seguido nos juros dos EUA pelo Fed.

Com o espaço mais estreito de ganhos no dólar, os estrangeiros realizam os “lucros fantásticos” na renda variável local e migram para os juros – onde também estão abrigados os institucionais. Para a Elos Ayta, o comportamento do investidor estrangeiro indica um ajuste de posições, calibrando o risco em meio a incertezas fiscais e políticas.

Assim, o mercado está em compasso de espera: pelo fim do shutdown nos EUA, pela retomada dos dados norte-americanos, pelo início do ciclo de queda da Selic, pelo aperto de mãos entre Donald Trump e Xi Jinping, pelas eleições presidenciais em 2026, pelo fim da guerra da Ucrânia…e por aí vai!

Passeio pelo mercado

Os índices futuros das bolsas de Nova York amanheceram com viés positivo, marcando uma alternância entre altas e baixas, após o tombo na última quarta-feira (5).

Na Europa, a sessão é mista, enquanto na Ásia, prevaleceu o sinal negativo.

Entre as moedas, o dólar ganha terreno em relação às moedas rivais, mas o índice DXY (cesta de moedas de economias avançadas) segue abaixo da marca de 100 pontos.

Nas commodities, o petróleo sobe, mas o minério de ferro negociado em Dalian (China) voltou a fechar em queda, de quase 2% hoje. O ouro também avança.

Entre as criptomoedas, o Bitcoin está em alta.