O mercado financeiro doméstico volta a operar nesta sexta-feira em um pregão espremido entre o feriado e o fim de semana, o que deve manter a liquidez do dia reduzida. Ainda assim, o que não faltam são notícias para repercutir. A começar pela boa nova ontem à noite, quando os Estados Unidos anunciaram a retirada da tarifa adicional de 40% contra uma série de produtos agrícolas brasileiros – entre eles, o café e a carne bovina.
Os recibos de ações (ADRs) de empresas brasileiras negociados em Nova York reagiram em alta ao fim do tarifaço, e esse comportamento deve se refletir no pregão regular do Ibovespa hoje. Resta saber se a decisão do governo Trump será suficiente para compensar a pressão vendedora vinda do exterior, com os ativos domésticos tendo ajustes a fazer na esteira das divulgações ocorridas quando os negócios locais estavam fechados.
O caso mais emblemático é a Nvidia. Apesar do lucro por ação e receita acima do esperado – e do guidance otimista – a big tech não sustentou Nova York no azul. A recuperação inicial deu lugar a uma onda vendedora generalizada, na maior virada intradiária do mercado de ações dos EUA desde abril. No fim, prevaleceram as dúvidas sobre se o setor de Inteligência Artificial (IA) entrega o que promete.
Mercado em alerta com Fed
Essa instabilidade ecoou o tom da ata do Federal Reserve. O documento alertou para uma possível “queda desordenada” nos preços dos ativos, em caso de uma “reavaliação abrupta” da empolgação com a IA. Também deixou clara a divisão interna entre os dirigentes do Fed sobre o caminho apropriado para os juros e a preocupação de decidir “no escuro”, após o apagão de dados provocado pelo shutdown.
O payroll atrasado de setembro reforça essa incerteza. Apesar da criação de vagas acima do esperado, de 119 mil ante previsão de +51 mil, houve forte revisão para baixo no dado de agosto – passou da geração de 22 mil vagas para um corte de 4 mil postos. Já a taxa de desemprego subiu em meio à busca por oportunidades, enquanto o ganho médio desacelerou na leitura mensal, mas subiu mais que o previsto em base anual.
Diante disso, o mercado trabalha com a ideia de que o Fed não irá cortar os juros agora. Talvez, o próximo movimento ocorra somente no início de 2026. Essa perspectiva drena a liquidez dos ativos globais, minando o apetite por risco. O sinal mais claro está no Bitcoin, que segue em queda livre depois de romper de vez a marca de US$ 90 mil.
Assim, a ressaca que chega hoje ao mercado doméstico hoje não é do feriado, mas do choque entre a realidade externa e os exageros recentes. O alívio vindo de Washington ajuda, mas não muda o fato de que a aversão ao risco voltou. A pergunta que fica é se os ativos locais terão segurança para seguir adiante enquanto Nova York ainda tropeça.
Passeio pelo mercado
Os índices futuros das bolsas de Nova York amanheceram em alta, ensaiando uma recuperação após a forte virada no pregão da véspera para o negativo.
Na Europa, as bolsas estão em queda, após uma sessão de fortes perdas na Ásia. As praças de Tóquio, Xangai e Hong Kong caíram cerca de 2,5%, cada.
Entre as moedas, o dólar perde terreno em relação às rivais, após o índice DXY (cesta de moedas de economias avançadas) avançar para além da marca de 100 pontos.
Nas commodities, o petróleo cai firme, enquanto o minério de ferro negociado em Dalian (China) fechou em queda, mas segue acima da marca de US$ 110 a tonelada métrica. O ouro também recua.
Entre as criptomoedas, o Bitcoin segue em queda livre, negociado na faixa de US$ 83 mil.
Agenda do dia
Indicadores
- 11h45 – EUA: Índice PMI/S&P de atividade composto (novembro – prévia)
- 12h00 – EUA: Confiança do consumidor/Univ. de Michigan (novembro)
- Brasil – Relatório bimestral de receitas e despesas
