As mulheres são maioria quando o assunto é decidir quem vai representar a população nas Casas de Leis de Mato Grosso do Sul. Apesar disso, são os homens que dominam o legislativo municipal e estadual, decidindo o rumo que a sociedade deve seguir.
Para as poucas representantes femininas, a luta contra o assédio e a violência política ainda são um dos maiores desafios enfrentados nos ambientes dominados pelo público masculino.
A deputada estadual Lia Nogueira (PSDB), é uma das três mulheres escolhidas pela população sul-mato-grossense, entre os 21 homens eleitos.
“As pessoas que olham atravessada: ‘ah, será que ela vai dar conta? Ah, essa daí só ganhou porque era polêmica’. Então, assim, é muito complicado, é muito difícil você ser julgada a todo momento. E uma questão que eu costumo dizer é que nós, mulheres, temos que provar. Todos os dias nós somos competentes, não basta a gente ser competente com os homens. Nós temos que provar além deles”, disse.

Da mesma forma argumenta a deputada estadual Gleice Jane (PT), pontuando que os questionamentos que sofre no local de trabalho são mais “duros”.
“E na execução dos Projetos de Lei, na hora da elaboração, os questionamentos também são questionamentos muito duros e a gente percebe, às vezes, projetos nossos que não não passam, mas que outros projetos passaram que tinha uma semelhança”, destacou.

Já a vereadora de Campo Grande, Luiza Ribeiro (PT), uma das duas representantes femininas na Câmara Municipal da capital, a situação no município torna o cenário muito pior do que o nacional, que também não é bom.
“Nacionalmente, 18% de todas as vagas das Câmaras Municipais estão preenchidas por mulheres. Já é uma média baixa, mas em Campo Grande nós temos apenas 7% dessas vagas preenchidas por mulheres. Ou seja, 93% das pessoas que estão decidindo aqui no Parlamento Municipal são homens. E, portanto, as decisões trazem muito mais da sua vivência e da sua forma de ver o mundo do que as mulheres”, frisou.

“O maior eleitorado de Campo Grande é mulher. Então, olha só o poder de transformação que a mulher tem dentro da política”, afirmou Ana Portela (PL), também vereadora em Campo Grande.

Mulheres na política de MS
Em Mato Grosso do Sul, 52% das pessoas aptas a votar no estado são mulheres. Esse número representa mais de 1,6 milhão de pessoas. Na eleição de 2024, apenas 36% dos candidatos aos cargos era do público feminino.
“É uma questão cultural, como mudar? Mudar principalmente garantindo que nos partidos políticos, nas executivas dos partidos, tenhamos mais mulheres. Porque é muito comum nas eleições buscarem laranjas mulheres para compor muitas vezes uma chapa. Se você tem mais mulheres nas executivas dos partidos, essas mulheres vão procurar mulheres competitivas. E o que não falta são mulheres líderes de bairro, professoras, servidoras públicas, trabalhadoras, MEIs, que têm vocação e que querem servir o seu país ou o seu estado como vereadoras, como deputadas, como senadoras, enfim, como governadoras e até como presidente da República”, destacou a Ministra de Estado do Planejamento e Orçamento, Simone Tebet.

A ministra das mulheres, Cida Gonçalves, diz que vai buscar formas para reverter o cenário atual no país.
“Se você continuar num regime em que é cota de 30% das mulheres para a eleição, cota para candidaturas, cota de 30% para financiamento das candidaturas, isso não vai dar certo, é uma conta que não bate. O que nós queremos hoje, na verdade, o Ministério das Mulheres tem trabalhado, nós vamos discutir na conferência nacional o direito à paridade e nós queremos a beira. Só assim é que nós vamos viver pelo processo”, ressaltou Cida.

Em Cassilândia, o presidente da Câmara Municipal, Arthur Barbosa de Souza Filho, foi condenado por assédio e recebeu pena de um ano de prisão, em regime aberto, além de multa, após ofender a vereadora Sumara Leal, que cobrava fiscalização das ações da prefeitura.
“Se usasse o restante do corpo para trabalhar em prol da sociedade, igual usa a língua para difamar, de repente o município seria muito melhor”, disse em público o parlamentar, que acabou condenado.
“A eficiência e velocidade do Ministério Público e de todo o sistema judiciário em condenar em primeira instância, menos de seis meses após o fato ter acontecido, com certeza me deixaram muito mais segura em continuar minha carreira política, buscando no mínimo por uma igualdade de representatividade entre homens e mulheres. E isso, sem dúvida nenhuma, irá servir de alerta para que outros homens não cometam violências e humilhações a nós mulheres parlamentares”, disse a vereadora atacada.
-
Campanha arrecada doações para mulheres em situação de vulnerabilidade; veja como ajudar
-
Mulheres na ciência podem ganhar bolsa de R$ 50 mil; veja como participar
-
Sou Mulher: Desenvolvimento Integrativo nas Universidades