A Páscoa de 2025 deve ficar mais cara após o preço do cacau quase triplicar nos últimos anos, reflexo da redução da oferta global em meio impactos climáticos nos campos de produção.
O preço referência do fruto negociado em Nova York disparou cerca de 180% desde março de 2023, saindo de aproximadamente US$ 2,9 mil a tonelada para mais de US$ 8 mil no fim da semana passada.
A valorização do cacau ocorre pelos desafios enfrentados por Gana e Costa do Marfim — responsáveis por 70% da colheita mundial —, com perdas de safra devido às mudanças no clima.
Segundo Anna Paula Losi, presidente-executiva da Associação Nacional das Indústrias Processadoras de Cacau (AIPC), o Brasil é um dos países diretamente afetados com esse movimento porque a produção nacional não atende a demanda, precisando importar, principalmente, dos países localizados no continente africano.
“O Brasil produz em média 190 mil a 200 mil toneladas ano. Só que a indústria moageira — que compra o cacau, faz os derivados e vende para a indústria chocolateira — processa em média 230 mil a 240 mil toneladas, explica.
E esse cenário pode não mudar em 2025 em meio ao clima seco na região. Losi destaca que a cultura do cacau é muito sensível e os países africanos não conseguem investir para renovar suas plantas, ficando mais suscetíveis a pragas.
O déficit na produção não é novidade, mas foi acentuado em 2024.
A cotação atingiu pico de US$ 12.565 em dezembro passado, justamente a época que fabricantes chocolateiros compram os insumos de produção dos seus itens para os próximos meses.
Dados da AIPC mostram que o recebimento das amêndoas de cacau recuou 18,5% no ano passado, de 220.303 toneladas em 2023 para 179.431 toneladas em 2024. A moagem também apresentou retração de 9,5%, puxado pelos resultados do último trimestre.
“Nos últimos dois trimestres [de 2024], temos verificado uma queda relevante na moagem de cacau no Brasil, sinalizando uma queda na demanda dos derivados, o que possivelmente é reflexo dos aumentos dos custos de produção, em razão das altas expressivas do preço da matéria-prima no último ano”, diz a associação.
Assim, a oferta de alguns produtos que dependem inteiramente do chocolate para sua produção, como os ovos de Páscoa, deve ser afetada.
Impactos na indústria e preços mais caros
Segundo a Associação Brasileira da Indústria de Chocolates, Cacau, Amendoim, Balas e Derivados (Abicab), serão 45 milhões de unidades de ovos de chocolate no mercado nesta Páscoa, queda de 22,4% em relação ao mesmo período do ano passado.
E com uma oferta menor, somado às altas no cacau, os diversos itens de chocolate tradicionalmente comercializados neste feriado devem aumentar de preço.
A Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe) estima que os chocolates ficaram mais de 27% mais caros.
Já os bombons têm um aumento de 13,5% e os ovos de páscoa avançaram 9,5%.
Setor chocolateiro busca alternativas
Segundo Anna Paula Losi, o setor chocolateiro tem evitado repassar o aumento dos custos para não afetar a demanda pelos itens de chocolate.
Buscar outras alternativas com novas matérias-primas ou inovar em novos produtos tem sido uma opção. Assim, em 2024, as exportações de derivados de cacau cresceram 6,2%, totalizando 50.257 toneladas, de acordo com a AIPC.
Além disso, estima-se que a indústria tenha produzido 803 itens diversos — sem contar ovos de Páscoa — nesses primeiros três meses do ano. No mesmo período de 2024, foram 611 unidades.
Qualidade do produto
Contudo, esse movimento tem levantado questionamentos acerca da qualidade do chocolate vendido nos mercados e lojas.
Segundo Valter Palmieri Júnior, doutor em economia e professor da Strong Business School, a diminuição da oferta do cacau faz com que a indústria utilize outros ingredientes para fazer os produtos.
“O aumento do custo do cacau não significa que ele é repassado totalmente para o preço do chocolate. Os chocolates, lidos como de pior qualidade, tem 75% da fórmula que não é cacau. Talvez a gente sinta um aumento menor nos custos, mas a qualidade vai ficando pior”, diz Júnior.
Porém, os especialistas consultados pela CNN afirmam que o Brasil pode criar uma boa oportunidade a partir desse cenário global desafiador.
“Está existindo um esforço maior de produção nacional, porque as mudanças climáticas estão desfavorecendo a produção de cacau nos principais países produtores. Então, isso cria uma oportunidade para o produtor, mas acredito que haverá uma maior exportação”, diz Júnior.
Anna Paula Losi, da AIPC, espera que o país tenha uma produção maior este ano, indo de 170 mil toneladas em 2024 para 200 mil toneladas em 2025, mais ainda com um déficit na oferta — que não supre a demanda.
Ovos de Páscoa ficam 9,5% mais caros neste ano, diz pesquisa