O ex-ministro da Agricultura Neri Geller revelou, em entrevista ao podcast Política de Primeira, do Portal Primeira Página, os bastidores de sua saída da Secretaria Nacional de Política Agrícola do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa). Segundo ele, a decisão de deixar o cargo foi consequência direta de divergências internas com o ministro Carlos Fávaro e da discordância em relação ao polêmico leilão do arroz, realizado em 2024.
“Fui contra o leilão desde o início. Era enxugar gelo com dinheiro público. O caminho certo era usar os R$ 7 bilhões previstos para equalizar juros e estimular a produção nacional de arroz e feijão”, afirmou Geller.
Divergência com Fávaro
O ex-ministro contou que, antes mesmo das enchentes no Rio Grande do Sul, já havia manifestado posição contrária à importação de 1 milhão de toneladas de arroz subsidiado. Segundo ele, os dados técnicos indicavam estoques suficientes e uma tendência de queda nos preços com o avanço da colheita nacional.
“Naquele momento, a produção no Rio Grande do Sul estava 85% colhida. Tínhamos oferta no Centro-Oeste e no Matopiba, e o Mercosul também tinha excedente. Não havia motivo para importar. Mesmo assim, forçou-se a barra para fazer o leilão”, disse.
A divergência com Fávaro, segundo Geller, se intensificou quando o tema chegou à Casa Civil e ao Ministério da Fazenda. “Mantive minha posição, mas fui atropelado. A decisão de importar partiu de cima, contrariando todos os técnicos. E deu no que deu”, relatou, em referência ao escândalo que derrubou o certame após irregularidades serem descobertas.
“Eu não tinha mais ambiente político”
Geller afirmou que o episódio abalou o clima dentro do ministério e minou as condições de trabalho. “Fui chamado de volta, mas não aceitei. Não tinha mais ambiente político, nem confiança. Eu não preciso disso”, declarou.
Veja trecho no vídeo abaixo:
O ex-ministro também respondeu às acusações de conflito de interesse envolvendo um advogado de Cuiabá, ex-assessor de seu gabinete até 2020, que participou do leilão como corretor. Ele negou qualquer envolvimento.
“Não sabia da participação dele e nem poderia saber. O Robson trabalhou comigo até 2020, saiu quatro anos antes. Ele se habilitou em edital público da Conab em 2022 e já tinha participado de outros leilões. Tudo estava regular. Eu não tinha mais vínculo com ele.”
“Fui vítima de injustiça, mas saí de cabeça erguida”
Segundo Geller, o episódio o deixou decepcionado, mas também mais convicto de que tomou a decisão correta. “Fui vítima de uma injustiça política. Quando o escândalo estourou, todos viram que eu estava certo. Fui contra desde o início e avisei que o resultado seria esse. Mas saí de cabeça erguida, com a consciência tranquila.”
O ex-ministro disse ter colaborado com todas as investigações abertas após o caso — incluindo apurações da Polícia Federal e da Controladoria-Geral da União (CGU). “Nunca me neguei a falar. Dei entrevistas, fui à Comissão de Agricultura, mostrei documentos. A verdade está aí: agi com transparência”, afirmou.
Geller, que foi ministro da Agricultura no governo Dilma Rousseff e secretário no governo Lula, também destacou sua trajetória de mais de 30 anos no setor. Ele lembrou de políticas que ajudou a implementar, como o Programa de Construção de Armazéns (PCA) e o Plano Safra da Agricultura Familiar.
Assista o episódio na integra:
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