Raoni alerta Lula sobre riscos do petróleo na Amazônia e reforça pedido por demarcação

Na visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) à Aldeia Piaraçu, no Parque Nacional do Xingu, nesta sexta-feira (4), o cacique Raoni Metuktire fez um apelo direto ao chefe do Executivo: que o governo não autorize a exploração de petróleo na foz do Rio Amazonas e avance com a proteção do território indígena do Alto Xingu.

O líder criticou a repetição de erros passados e pediu medidas concretas para garantir a integridade das terras indígenas às futuras gerações.

“Eu tô sabendo que na foz do Rio Amazonas o senhor tá pensando lá no petróleo que tem embaixo do mar. Eu penso que não”, disse.

Raoni alertou sobre os impactos da atividade petrolífera no equilíbrio ambiental e também fez uma referência à sua espiritualidade como pajé.

“Essas coisas da forma que estão garante que a gente tenha o meio ambiente, a terra com menos poluição e menos aquecimento. Eu sou pajé também e tive contato com os espíritos. Eles sabem do risco que a gente corre se continuar destruindo. Vamos ter consequências muito grandes que não vamos conseguir parar”, afirmou.

Em outro momento do discurso, o cacique fez um apelo por medidas de proteção ao território do Alto Xingu, criticando a lentidão do governo em atender a demandas antigas.

“Desde a posse, eu falei com o presidente e fiz uma cobrança pra ele, pra ele não repetir alguns erros da gestão anterior. Cadê o Tapi? Cadê o Alto Xingu?. Eu tô cobrando que ele faça uma reaviventação, uma nova limpeza no limite da nossa terra, pra garantir o limite físico, pra proteger nossos filhos, nossos netos”, declarou.

A fala ocorreu durante cerimônia em que Lula entregou a Raoni a Grã-Cruz da Ordem Nacional do Mérito, uma das maiores honrarias do país, em reconhecimento pelos serviços prestados à defesa dos direitos indígenas e da Amazônia. Apesar da homenagem, Raoni destacou que sua luta vai além de medalhas e reconhecimentos.

“Pelo que eu falo com vocês, povos indígenas, parece que vocês não acreditam ou não consideram o que eu falo. Mas desde jovem eu lutei pelo nosso povo, pelas nossas terras. É só isso que eu fiz até hoje”, disse.

Mesmo com críticas, o cacique celebrou a ida de Lula à aldeia após três convites diretos.

“Eu estive pessoalmente com o presidente Lula, convidei ele três vezes. Ele disse que viria e não veio. Agora ele está aqui. Recebemos ele. Quero que eu e o senhor façamos um trabalho que beneficie os povos indígenas do Brasil. Assim eu penso”, contou.

Essa foi a primeira agenda oficial de Lula em Mato Grosso neste ano. Além da homenagem, o governo anunciou R$ 14 milhões em investimentos para segurança alimentar e geração de renda em comunidades indígenas, com ações desenvolvidas pela Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) e Instituto Federal de Mato Grosso (IFMT), beneficiando inicialmente as etnias Xavante e Tapirapé.