A Reasset Investimentos, por meio de sua marca operacional Simcerto, consolidou em dois anos uma atuação silenciosa, mas em rápido crescimento no mercado de aquisição de créditos de processos falimentares no Brasil. A companhia já adquiriu mais de R$ 100 milhões em direitos creditórios de credores espalhados pelo país, em um segmento que cresce em meio ao aumento expressivo de falências e recuperações judiciais. A meta para 2026, segundo o CEO e empresário Bruno Carlin, é ampliar significativamente esse volume e alcançar R$ 200 milhões em compras em um único ano.
O modelo de negócio se apoia na lógica da antecipação de recebíveis, prática comum em setores como varejo e serviços financeiros, mas aplicada a um nicho marcado por alto risco, baixa liquidez e longuíssimos prazos de pagamento. “Só 6% das falências são quitadas no Brasil. E, quando pagam, podem levar décadas”, explica Carlin. “Para muitos credores, trocar o incerto e demorado pelo dinheiro imediato faz muito sentido.”
O procedimento é simples: a Simcerto identifica credores de falências em todo o país, faz uma proposta de compra e formaliza tudo por meio de uma cessão de crédito, um contrato de uma ou duas páginas. A partir da assinatura, o pagamento ocorre em até 48 horas. Em alguns casos, no mesmo dia.
“A aceitação é muito alta. Há pessoas esperando há anos para receber valores que nem sabem se serão pagos algum dia”, afirma o CEO. “Quando mostramos que podemos pagar imediatamente, muitos preferem seguir a vida em vez de enfrentar a morosidade da Justiça.”
A companhia já realizou cerca de 800 operações de compra, segundo Carlin, o que demonstra o apetite e a escalabilidade do modelo.
O preço ofertado varia conforme o risco de cada massa falida. Empresas com ativos relevantes, como imóveis e participações, tendem a receber propostas mais altas. Já processos sem bens suficientes ou com muitas incertezas geram descontos maiores.
“Não existe uma tabela fixa. O valor depende do risco jurídico e da probabilidade de pagamento”, diz Carlin. “Nós assumimos integralmente o risco de não receber nada no futuro.”
O executivo destaca que a empresa não compra ações judiciais em andamento, mas os créditos já reconhecidos (trabalhistas ou quirografários) relacionados a um processo específico. A análise jurídica profunda é um dos principais custos da operação. Por isso, 99% dos negócios são iniciados pela própria Simcerto, que prospecta diretamente os credores.
Expansão em um mercado que só cresce
Para 2026, Carlin projeta um salto nas operações. A estimativa interna é avançar para R$ 200 milhões em compras de créditos em apenas um ano, mais do que dobrando o ritmo atual. O mercado está aquecido, impulsionado pelo aumento de empresas em crise, tanto em falência quanto em recuperação judicial.
“O número de processos tem crescido muito, especialmente de recuperações judiciais. Há casos sérios de empresas realmente em dificuldade, mas também muita gente que usa a recuperação para renegociar dívidas com descontos altos”, comenta o executivo. “O volume é enorme e isso acaba refletindo também nas falências.”
Toda a operação é financiada com capital próprio dos sócios. São quatro empresários com larga experiência no setor jurídico e financeiro, incluindo especialistas que atuam há décadas no mercado de insolvência. Não há fundos ou investidores externos.
Com o aumento do número de falências e a dificuldade estrutural do Judiciário em liquidar massas falidas, o mercado de compra de créditos estressados tende a se expandir nos próximos anos. Para Carlin, trata-se de um serviço que beneficia ambos os lados.
“De um lado, o credor que espera há anos tem a chance de receber algo imediato. Do outro, nós assumimos o risco e trabalhamos para recuperar esse valor no longo prazo”, afirma.