A ex-deputada federal e atual diretora da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), Rosa Neide, defendeu que o Partido dos Trabalhadores precisa retomar com firmeza o diálogo com o público evangélico e com diferentes correntes religiosas no Brasil. A declaração foi dada durante entrevista ao Podcast Política de Primeira, do portal Primeira Página, em que a dirigente analisou a influência da religião no cenário político e destacou a necessidade de resgatar as origens do partido junto às comunidades de fé.
Para Rosa Neide, a associação entre setores religiosos e a extrema direita tem distorcido o papel da fé na sociedade brasileira. “Eu não consigo imaginar extrema direita e religião cristã caminhando juntas, porque as orientações de Jesus Cristo sempre foram do lado do povo”, afirmou. Ela ressaltou que a mensagem cristã está ligada à solidariedade, à igualdade e à defesa dos mais pobres, valores que, segundo ela, também orientaram a fundação do PT.
A dirigente lembrou que o partido nasceu em grande parte do trabalho das comunidades eclesiais de base da Igreja Católica, que nos anos 1980 desempenharam papel essencial na organização popular. Para ela, esse vínculo histórico precisa ser recuperado. “O Partido dos Trabalhadores nasceu exatamente da Igreja Católica de base. Essa relação religião com as pessoas que defendem um projeto popular foi sempre o início e o crescimento do PT”, destacou.
Pastores e padres que trabalham com o povo
Rosa Neide também afirmou que há muitas lideranças religiosas engajadas em ações sociais que não podem ser abandonadas pelo campo progressista. “Tem muitos pastores que trabalham com o povo, que cuidam da alimentação da população, que vão à casa daqueles que estão doentes, daqueles que estão enfermos e precisam de ajuda. Esse é o nosso povo e nós não podemos abrir mão deles”, declarou.
Na avaliação da ex-deputada, a direita avançou sobre o público evangélico nos últimos anos porque conseguiu transformar a fé em instrumento de disputa política, enquanto o PT deixou de ocupar esse espaço de forma ativa. “Nós precisamos retomar essa base de diálogo, porque ela sempre esteve conosco. Não podemos permitir que a religião seja sequestrada por discursos de intolerância e exclusão”, reforçou.
Desafios para 2026
Ao projetar o cenário eleitoral, Rosa Neide acredita que o diálogo com comunidades religiosas será estratégico para o PT e seus aliados em 2026. Ela defendeu que as campanhas políticas precisam ser capazes de mostrar que fé e direitos sociais não são incompatíveis. “Nós precisamos conversar com as igrejas, com os fiéis que estão na ponta, porque eles são fundamentais na formação de opinião. Esse contato direto pode ser decisivo nas eleições”, disse.
A dirigente também apontou que parte da resistência ao PT em Mato Grosso e em outros estados está ligada à distorção de conceitos políticos, muitas vezes alimentada por setores religiosos alinhados à extrema direita. “Aqui em Mato Grosso houve por muito tempo um modelo de intransigência. As pessoas confundem religião com política e acabam transformando o debate em algo hostil. Religião é religião, política é política, como o futebol: cada um escolhe a quem quer torcer”, afirmou.
O peso das igrejas no debate nacional
Rosa Neide ainda destacou que as igrejas têm enorme capacidade de mobilização social e que isso precisa ser entendido pela esquerda como um espaço de disputa de ideias. Segundo ela, não se trata de transformar a religião em palanque político, mas de valorizar as lideranças que já atuam em prol das comunidades. “Nós fizemos várias avaliações com o presidente Lula sobre a importância das igrejas, especialmente aquelas que estão lado a lado do povo, levando alimento, cuidado e esperança. Esse é o povo que precisa estar com a gente”, completou.
A ex-deputada defendeu que, além do diálogo, o PT deve investir em projetos sociais que se aproximem da realidade das comunidades religiosas. Na sua visão, políticas públicas de assistência, educação, saúde e geração de emprego são a forma mais efetiva de se conectar com fiéis que valorizam a melhoria de vida de suas famílias. “Não é sobre disputa de discursos, mas sobre mostrar resultados concretos. Se a igreja apoia uma comunidade, o governo também tem que estar presente”, afirmou.
Veja trecho no vídeo abaixo:
